sábado, 31 de dezembro de 2011

CONTO: SOYAGE- MATHEUS DE OLIVEIRA (BRASIL)






SOYAGE




MATHEUS DE OLIVEIRA (BRASIL)




Este é meu chão, esta é minha terra: Soyage. Terra de Kaomi, o deus do amanhecer. Pertenço a esse mundo extraordinário, que é mantido em sintonia com a natureza e todos os seres que aqui vivem, através de Ratomi, a deusa centro-mundi, a maior divindade desse mundo, que com grande resiliência dirige todos a estarem interados; estarem em unidade perante as adversidades que nos cercam, mas que ao mesmo tempo nos atraem a lutar re resistir, mas sempre mantendo um equilibrio entre os seres viventes, natureza e os deuses.
Arph, o deus criador, é aquele que com seus planos mirabolantes, criou-me. Fez-me “ser vivente”, através de uma junção amorosa com a mãe natureza, que é soberana sobre todos. Agradeço a Arph de ter me criado, de ter posto em mim o fôlego de vida.
Nosso mundo foi criado depois que uma grande chuva caiu sobre uma terra seca, perdida no espaço. Ratomi sempre existiu e sabia a todo tempo que nosso mundo e todos nós que aquí habitamos seríamos criados. Como uma explosão dentro de si, Taomi sentia tudo aquilo que a natureza fazia. Taomi sentiu cheiro de vida; sentiu a chegada de um novo tempo. Tudo foi criando cor e forma, mas numa dimensão tão grande e exuberante que nem Ratomi a poderia imaginar.
Soyage existe; surge. A natureza com seus mistérios insondáveis faz nascer do pó da terra: Kaomi, que veio ao mundo trazendo luz; direção aos seres já existentes, por isso foi nomeado por Ratomi, o deus do amanhecer. Arph, quem

deu-me a vida, nasceu do primeiro encontro das águas de Soyage, chamado de Teksqui. As águas submergiram um pedaço de madeira, a envolveram e a modelaram, minusciosamente, como mãos que com delicadeza amorosa tocam e transformam. De uma vida surge uma outra vida. Eu nasci através do primeiro sopro de vida de Arph, que foi tão forte, quanto o bradar de um gigante que estava adormecido, no profundo da forma.
Dentro de mim, nas profundezas do meu ser, olho e exalto as obras da mãe natureza, àquela que faz tudo com perfeição e grandiosidade, mas que ao mesmo tempo de uma maneira sutil me leva a adorá-la, e pensar no sentido da minha existência de “ser vivente” de Soyage. Eu Olukark desfaleço-me perante a essa natureza; perante a tamanha grandeza e soberania absoluta. Com todo direito e atenticidade me entrego e me rendo a ela: a sabedoria.
Às margens do igarapé de Sina, Arph me conta muitas histórias, principalmente sobre a mãe natureza e o processo de criação do nosso mundo. No meio de uma conversa ele me revela que nosso mundo existe hoje, só por causa de grande sacrificio que foi feito a milhões de anos atrás, por uma mulher, em um planeta muito distante do nosso, que se chamava Terra. Arph com grande diligência e diplomacia, conta-me que a Terra era um planeta muito lindo, gracioso, mas que nos últimos séculos não estava mais aprazível de se viver.
O homem, aquele que era chamado de imagem e semelhança de Deus, por causa da grande ambição, ia veemente destruindo o seu mundo; o seu lar, destruía aquele lugar que o seu criador havia lhe preparado. O homem fugia do perfeito plano de Deus para ele. Enquanto Arph me contava essa história, eu refletia e me questionava: “por que isso? Para que tanta ambição se Deus havia lhes dado tudo?”

Continuando o fio da história, Arph me contava que a mãe natureza ia sendo muito destruída e tão massacrada, que ela não suportou a tanto, que acabou se revoltando contra o homem. Vários desastres naturais ocorreram naquele planeta. Já não havia mais amor entre os seres, que um dia foram chamados de humanos.
A natureza com grande sapiência tomou uma decisão, uma decisão que mudaria a história de toda humanidade. Com o coração quebrado e chorando estabeleceu o designo de que a Terra e todos que nela habitavam seriam dizimados. Juntamente com o espírito da mudança, a mãe natureza escolhe uma mulher que vai ter grande participação na destruição do seu próprio planeta. Essa mulher com a voz da mãe natureza sibila uma melodia que entrega o espírito de todos àqueles viventes às entidades supremas. Aquela canção também representava o último suspiro do planeta, o último fôlego.
Grande escuridão caiu sobre todos. Esta hora marcava o fim da existência dos moradores da Terra. Enquanto Arph me contava essa história, eu devaneava esse evento histórico de forma grandiosa em mim. Arph me conta também, que essa mulher, que sibilou essa melodia, naquele dia, foi a única poupada pela mãe natureza da destruição que assolara aquele planeta.
A hora já estava avançada. Eu me despeço de Arph e vou embora para fazer minhas orações aos deuses, como sempre me foi ensinado, pelos ancestrais. E enquanto eu cumpria minhas obrigações da jornada de volta para casa, perguntei a mim mesmo:” E aquela mulher? Se sobreviveu, onde ela está? “Nesta hora em que eu refletia sobre, eu recebi uma luz. Uma direção de Kaomi, e concatenei essa mulher a Ratomi, imaginando elas serem a mesma pessoa. Fiz minhas orações naquela noite e fui dormir, com todos os sentidos aguçados.

Acordei pela manhã com a aprazível radiação da luz do Sol sobre mim. “ Oh, quão maravilhosa é sua bondade para mim, mãe natureza!” Te agradeço pela vida que me desperta pela doce manhã!” Para tirar minha dúvida da noite anterior, eu invoquei Ratomi; e ela veio até a mim de maneira divina e luzente.
Enfim, estou defronte a ela, pergunto-lhe, olhando em seus olhos, se ela é aquela mulher escolhida e a única salva pela mãe natureza da destruição da Terra. Mediante a essa indagação, Ratomi entra em síncope e se perde de si e da sua própria alma. Depois de algum tempo, ela retoma os sentidos e me afirma que foi a mulher que cumpriu essa penosa missão a milhões de anos atrás na Terra. E ela me relata que não fora nada fácil ser uma espécie de pivô de tal acontecimento. Sabia que era uma grande renúncia mas ficou segura de si e no que ia fazer, pois entendia os propósitos da mãe natureza, que sempre estão além dos pensamentos de qualquer ser.
Enquanto Ratomi discorria comigo, eu podeia vê-la em alguns momentos perder a concentração do seu espírito, creio eu que, seja por causa dessa recordação vir a tona depois de muito tempo do fato sucedido. Ela me relata ainda que o propósito da mãe natureza era de construir um novo mundo. Com ideias e perspectivas diferentes do planeta Terra. A natureza acima de tudo e de todos, localizada num plano superior, não só no cosmos como sempre esteve, mas também na cabeça e no coração dos seres que difundiam a humanidade, de si e em si.
Assim a natureza fez: criou nosso mundo e todos nós que aqui habitamos do jeito que fora arquitetado nos seus pensamentos e imaginário. Até chegarmos a Soyage, passamos por uma grande odisséia, uma jornada cheia de peripécias extraordinárias e nunca dantes imaginadas ou sentidas, por nenhum outro ser semelhante aos deuses, que o diga Ratomi, a deusa que engendrou o fio da história, aqui: uma deusa centro-múndi.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

HOMENAGEM: VITOR GUERRA (PORTUGAL/MOÇAMBIQUE)

PUREZA




VITOR GUERRA (PORTUGAL/MOÇAMBIQUE)



Ouvia-se ao longe
as folhas das árvores
o rugir do vento
o tinir da chuva


E num quarto
de um pequeno hotel
de uma artéria qualquer
na velha cidade


Eu e tu
corpo contra corpo
tentávamos fugir
à solidão que nos rodeava

Procurávamos esquecer
a velha monotonia do dia-a-dia
E na sofreguidão dos instantes
acabamos por esquecermo-nos
de nós próprios


As minhas mãos percorriam
de ponta a ponta o teu corpo
Voltamos
então
momentaneamente à realidade


Ouvia-se ao longe
o choro agudo
duma criança com fome
o estalido grave duma porta
o estampido dissonante duma bala
e o baque seco
de um fardo a cair no passeio


Um grito de horror
e de medo
num País escravizado e oprimido


Embrenhamo-nos
então
de novo
na nossa árdua tarefa de amar


E o meu último pensamento
antes de me afundar
no abismo da inconsciência
foi:
Que talvez o nosso amor furtivo
fosse a única coisa pura deste mundo



*VITOR GUERRA: nasceu em 3 de agosto de 1968, em Lisboa, Portugal. Mora em Maputo, Moçambique. Diretor de Operações na empresa Altel. Formado em Engenharia, Universidade Eduardo Mondlane.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

BREVE LANÇAMENTO NO CAFÉ LITERÁRIO: UNIVERSO SECRETO, DE VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Foto: O Livro(contos) da escritora brasileira VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES.




OS QUILOMBOLAS


A língua-pele invisível do corpo brotou solta. Furiosa e
farpenta no gingado, além... no dentro exprimido à velocidade
da luz, no encalço do andar faceiro de Virgulina Sestrosa que
dançava em seu ritmo no jogar da capoeira de Angola,
ensinando à resistência, mentalmente, a um ser em seu ser.
Pensava suavizando-se “ Camará, Ó camará, te aquiete!”
O pequenino coração agitou-se em seu batimento,
reconhecendo a voz silenciosa da imaginação destravada em
pensamento, criando memória sentimental e alimentando o
veio para a formação da plasticidade cerebral. Um grão de
vida no universo criado a imagem e semelhança, de um ser
resiliente. A mãe, no fora, o ventre acariciava com alegria.
Amável agarrou-se a placenta e sugou o polegar de seu dedo humano.


(In.: SALLES, Vanda Lúcia da Costa. UNIVERSO SECRETO (Entre o Abismo e a Montanha, Virtualbook,MG:2011)

domingo, 25 de setembro de 2011

POESIA: TERRA - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)*


Foto: Chantal Foucault (França)- Uma criança a brincar.




TERRA


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)
I


A minha língua me ensina
que das minhas mãos a consagração beija-me os sonhos
tem importância de vida esse chão que caminho
Sim, a minha língua me ensina
Mas também ensina todas as línguas
quando escuto a canção
percebo que homens e mulheres semeiam
e enxergo uma criança a brincar na areia, bem sei:
é um privilégio amar.




II


Entretanto, o absurdo apavorou o dia
naquele dia
ou em tantos outros dias
que nessa mesma Terra
um menino de 10 anos preferiu o estampido
de uma bala,
no cérebro.
Minha língua não coube na boca...Destravou o céu, engasgou-se!



III


Alguma coisa de muito triste acontece na Terra,
nessa Terra,
estaríamos apodrecendo?



IV


Por detrás das lágrimas
vejo
o que poucos veem:
ainda há uma criança a brincar na Terra!



VI


Ela sorri. Escrevinha seu nome na areia...
Sonhas coisas, mundos fantásticos, possibilidades,
tais,
assim também o poeta canta. É uma consagração em ser.
Mas Chrislany sabe. E disse tão bem:
- " Eu não entendo, eu aprendo cada dia mais
como é a importância de ser um poeta, e às vezes,
ninguém dá valor".
Meu coração ficou em pulos. Festejando o despertar da linguagem.



VII

Que o aprendizado se enamore da vida em ti
que a Esperança seja luz em teus olhos
igual o brilho que vi
em teus olhos de menina a brincar
com as palavras
em uma pobre e tosca sala de aula,
no Jardim Catarina.


VIII

Minha Terra não é a mesma,
pede mudanças,
acredita o povo que há uma via...
E não se permitirá fracassar, porque vê:
há uma criança a brincar.
E quando uma criança brinca...Eu não entendo, eu aprendo cada dia mais!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

POESIA: O LIMO - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)





O LIMO


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES ( BRASIL)



não me custa, do gesto
descer à fonte e sorver com as mãos
o sabor
por meio da verdade
toda a força do tempo
e a sabedoria de escutar-te, oh! limo
ao suavizar meu cansaço
e redefinir este sonho nas mãos calejadas de canto.


Nem sempre, os pássaros sabem de solidão!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

HOMENAGEM: ANDORINHA SECRETA DE UM VERÃO - DANIEL FELIPE (CABO VERDE)



ANDORINHA SECRETA DE UM VERÃO




DANIEL FELIPE (CABO VERDE)


Andorinha secreta de um verão,
que só nós dois sabemos, te revelas.
De que longínqua e solitária estrela
vieste iluminar-me o coração?


De que planeta ainda inominado?
De que mistério astral, corpo solar,
Patagonia, celeste, ignoto mar,
provém o teu perfil sereno e amado?





DESNECESSÁRIA EXPLICAÇÃO



Que importa a melodia,
se acaso aos outros dou,
com pávida alegria,
o pouco que me sou?

Que importa ao que me sabe
estar só no meu caminho,
se dentro de mim cabe
a glória de ir sozinho?

Que importa a vã ternura
das horas magoadas,
se ao meu redor perdura
o eco das passadas?

Que importa a solidão
e o não saber onde ir,
se tudo, ao coração,
nos fala de partir?





TRESPASSE



Quem tiver sonhos, guarde-os bem fechados
— com naftalina — num baú inútil.
Por mim abdico desses vãos cuidados.
Deixai-me ser liricamente fútil!

Estou resolvido. Vou abrir falência.
(Bandeira rubra desfraldada ao vento:
"Hoje, leilão!") Liquida-se a existência
— por retirada para o esquecimento ...





A INVENÇÃO DO AMOR

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos
nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado
por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro
que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem e uma mulher um cartaz de denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos

Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos
Decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o
Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja demasiado tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas
Sobretudo protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste
Inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo
Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros. É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio
das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

Procurem os guardas dos antigos universos concentracionários
precisamos da sua experiência onde quer que se escondam
ao temor do castigo

Que todos estejam a postos
Vigilância é a palavra de ordem
Atenção ao homem e à mulher de que se fala nos cartazes
À mais ligeira dúvida não hesitem denunciem
Telefonem à polícia ao comissariado ao Governo Civil
não precisam de dar o nome e a morada
e garante-se que nenhuma perseguição será movida
nos casos em que a denúncia venha a verificar-se falsa

Organizem em cada bairro em cada rua em cada prédio
comissões de vigilância. Está em jogo a cidade
o país a civilização do ocidente
esse homem e essa mulher têm de ser presos
mesmo que para isso tenhamos de recorrer às medidas mais drásticas

Por decisão governamental estão suspensas as liberdades individuais
a inviolabilidade do domicílio o habeas corpus o sigilo da correspondência
Em qualquer parte da cidade um homem e uma mulher amam-se ilegalmente
espreitam a rua pelo intervalo das persianas
beijam-se soluçam baixo e enfrentam a hostilidade nocturna
É preciso encontrá-los
É indispensável descobri-los
Escutem cuidadosamente a todas as portas antes de bater
É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz
Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância
Campos verdes floridos Água simples correndo A brisa das montanhas

Foi condenado à morte é evidente
É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo assim desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

Impõe-se sistematizar as buscas Não vale a pena procurá-los
nos campos de futebol no silêncio das igrejas nas boîtes com orquestra privativa
Não estarão nunca aí
Procurem-nos nas ruas suburbanas onde nada acontece
A identificação é fácil
Onde estiverem estará também pousado sobre a porta
um pássaro desconhecido e admirável
ou florirá na soleira a mancha vegetal de uma flor luminosa
Será então aí
Engatilhem as armas invadam a casa disparem à queima roupa
Um tiro no coração de cada um
Vê-los-ão possivelmente dissolver-se no ar Mas estará completo o esconjuro
e podereis voltar alegremente para junto dos filhos da mulher

Mais ai de vós se sentirdes de súbito o desejo de deixar correr o pranto
Quer dizer que fostes contagiados Que estais também perdidos para nós
É preciso nesse caso ter coragem para desfechar na fronte
o tiro indispensável
Não há outra saída A cidade o exige
Se um homem de repente interromper as pesquisas
e perguntar quem é e o que faz ali de armas na mão
já sabeis o que tendes a fazer Matai-o Amigo irmão que seja
matai-o Mesmo que tenha comido à vossa mesa e crescido a vosso lado
matai-o Talvez que ao enquadrá-lo na mira da espingarda
os seus olhos vos fitem com sobre-humana náusea
e deslizem depois numa tristeza líquida
até ao fim da noite Evitai o apelo a prece derradeira
um só golpe mortal misericordioso basta
para impor o silêncio secreto e inviolável

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
No inquérito oficial atónito afirmou
que o homem e a mulher tinham estrelas na fronte
e caminhavam envoltos numa cortina de música
com gestos naturais alheios Crê-se
que a situação vai atingir o climax
e a polícia poderá cumprir o seu dever



Daniel Filipe
A Invenção do Amor e Outros Poemas
Lisboa, Presença, 1972




DANIEL FILIPE:

Em 1925 nasceu Daniel Damásio Ascensão Filipe na ilha da Boavista, em Cabo Verde.


Ainda criança, veio para Portugal onde fez os estudos liceais. Poeta, foi colaborador nas revistas Seara Nova e Távola Redonda, entre outras publicações literárias. Combateu a ditadura salazarista, sendo perseguido e torturado pela PIDE.


Num curto espaço de tempo, a sua poesia evoluiu desde a temática africana aos valores neo-realistas e a um intimismo original que versa o indivíduo e a cidade, o amor e a solidão.


Faleceu em 1964 em Cabo Verde.








Algumas obras:



Poesia


Missiva (1946)


Marinheiro sem Terra (1949)


Recado para a Amiga Distante (1956)


A Ilha e a Solidão (1957)


A Invenção do Amor (1961)


Pátria, Lugar de Exílio (1963)





Prosa
O Manuscrito na Garrafa (1960)




http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/25/danifilipe.html




http://www.astormentas.com/din/poema.asp?key=5554&titulo=Trespasse

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ATENÇÃO!!!! AOS AMIGOS POETAS, PINTORES, EDUCADORES E DEMAIS ARTISTAS


Foto: IRP.GROUP



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E NOSSA LOJA É:

VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES - MEI
EVENTOS( CAFÉ LITERÁRIO) E VENDAS DE OBJETOS DE ARTES ( LIVROS, TELAS PICTÓRICAS, ESCULTURA, POESIAS, ETC)

ALÉM DE UMA BIBLIOTECA COMUNITÁRIA:
MARIA AMARAL FERREIRA ( MARIA SALLES )- IN MEMORIAM

SITUA-SE:

AVENIDA MARICÁ, Nº 3314- LOJA
ALCÂNTARA- SÃO GONÇALO - RJ
BRASIL
CEP: 24.710.007

domingo, 7 de agosto de 2011

HOMENAGEM: O FILHO DA SOLITÁRIA- NILTO MACIEL (BRASIL)*



Foto: Bandeira do Brasil



Foto: Nilto Maciel (Brasil)




O FILHO DA SOLITÁRIA



NILTO MACIEL (BRASIL)



Quando ele voltou, isto é, quando o trouxeram de volta, não o reconheci. Talvez eu já estivesse ficando cega, caduca, velha demais, como diziam. Não, meu filho parecia mesmo outro. Certamente haviam passado muitos anos desde sua partida, pois ele também não me reconheceu. E nem ainda me reconhece.
Com as quatro patas assentadas no chão frio, vive mudo pelos cantos. Eu o aconselho a cantar, de vez que não quer falar. E a correr, já que não deseja andar. Porém ele apenas coaxa e pula, de quando em quando. Como se tivesse medo de estar livre.
Resolvo então espantá-lo com a vassoura. Se assim não fizer, a casa pode virar um monturo, cheia de sapos, ratos, bichos de toda espécie. Paro e vejo: ele me olha com resignada profundidade. Depois dá um pulo, outro, mais outro e foge para o quintal. Se me descuido ou quando é noite, está ele novamente no mesmo cantinho, encolhido, os olhos esbugalhados.
No quintal, mete-se na água suja que escorre da lavanderia, na lama formada ao pé do mamoeiro ou no lixo onde se amontoam os restos de comida reservados ao bacorim desaparecido.
Dia desses, a vizinha da direita, ao ouvir aquele remexido na água, pôs a cabeça sobre o muro e perguntou se me haviam devolvido o porco. Enquanto imaginava a resposta, perguntei-lhe se do lado de lá o muro era baixo. Fui buscar um tamborete, porque julguei ter ouvido roncos de porco, explicou-me. A seguir, arregalou os olhos e perguntou: de quem é este sapão? Você está criando ele para engolir cobras? João olhou para a cabeça que falava e deu uns três pulinhos dentro da água. Tive vontade de dizer um desaforo qualquer. Terminei fazendo graça. Eu o queria para apagar brasas. A safada sorriu e disse: deixe de mentira! Ninguém usa mais fogão a lenha nem fogareiro a carvão. E desapareceu. Fiquei apalermada, a olhar para cima do muro. E ainda ouvi a voz risonha e sumida da vizinha gritar: jogue água salgada nas costas dele.
Dias depois, minha vizinha da esquerda veio me perguntar se, na verdade, eu havia resolvido criar batráquios. Ora, que diabo são batráquios? Quando tiver alguma jia grande me avise. Adoro jias.
Hoje me contaram tudo: meu filho esteve numa solitária, acocorado durante não sei quanto tempo.


_____________________________________________________________________________




NILTO MACIEL: (Baturité, 1945) é um dos fundadores de O Saco. Publicou as seguintes coleções: Itinerário, 1.ª ed. 1974, 2.ª ed. 1990, João Scortecci Editora, São Paulo, SP; Tempos de Mula Preta, 1.ª ed. 1981, Secretaria da Cultura do Ceará; 2.ª ed. 2000, Papel Virtual Editora, Rio de Janeiro, RJ; Punhalzinho Cravado de Ódio, 1986, Secretaria da Cultura do Ceará.; As Insolentes Patas do Cão, 1991, João Scortecci Editora, São Paulo, SP; Babel, 1997, Editora Códice, Brasília; e Pescoço de Girafa na Poeira, 1999, Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, Brasília. Tem novelas, romances e poemas em livros. Pertenceu ao Grupo Siriará. Editor, desde 1991, em Brasília, da revista Literatura. Em 2003 a transferiu para Fortaleza. Suas narrativas mereceram artigos e ensaios de alguns comentaristas e críticos cearenses, como F. S. Nascimento, Sânzio de Azevedo, Dimas Macedo, Batista de Lima, Francisco Carvalho, Caio Porfírio Carneiro, Carlos Augusto Viana, e também de outros Estados, como Foed Castro Chamma, Tanussi Cardoso, Francisco Miguel de Moura, Ronaldo Cagiano e Astrid Cabral. Tem contos traduzidos para o espanhol, o italiano e o esperanto. Ganhou alguns prêmios também no gênero conto.

domingo, 31 de julho de 2011

POESIA: LA AMISTAD - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES/TRADUCCIÓN: MARIA ELENA SANCHO (ARGENTINA)*



Foto: Escultura do colombiano Edgardo Cormona, foto de Chantal Foucault (França)



LA AMISTAD

De: VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)

Traducción: Maria Elena Sancho (Argentina)

1


Ardiendo como una llama
Al igual que la profundidad
La pasión que anhela
Existe un lugar
el deseo
El sueño de volar
Así quedar
Tan libre... Como las mariposas


2

Oh, volar... Amiga!
Tierras esta hoja de la mañana
humedecido
Ven a vivir
amor
La vida al volar se ha perdido
Será
simplemente
una mariposa

3

Y tener la libertad
La palabra correcta
De sentir y entender
Ese momento es ahora
usted debe vivir,
Dejar vivir,
renacer
Para hacer el amor
porque el amor
es una llama tan intensa
y para que exista
Sólo tu sonrisa
Basta creer
dejarla quedarse
En voz baja,
en tu corazón
Así que con toda ternura,
hecho esta canción.


4

Ahí que volar... Amigaaaa!!!
posa(duerme) en esta hoja de la matinal
humedecido
Ven a vivir,
el amor,
volar
se pierde la vida
venga a ser
simplemente
una mariposa



5


Y cuando escuche esta voz
cruzar todas las fronteras
No tenga miedo,
acaricie las aguas del mar
Imagine
se sienta:
la amistad es el toque divino de Díos el Creador
Yo también
aquí estaré, siempre amiga,
vivir la vida que tengo que vivier,
volando tan libre... al igual que las mariposas.






À AMIZADE



Letra/música: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)





1



Ardente como a chama
Do gostar profundo
Da paixão que se anseia
Existe um lugar
O desejo
O sonho de voar
E assim ficar
Tão livre... Tal as borboletas



2



Ai, voa... Amiga!!!
Pousa nessa folha matinal
Umedecida
Venha viver
Amar
Voar se perder de vida
Venha ser,
Simplesmente,
Uma borboleta


3


E possuir a liberdade
Da palavra certa
De sentir e compreender
Que a hora é essa
É preciso viver,
Deixar viver,
Renascer,
Pra se fazer de amor
Porque amor
É chama tão intensa
E para que exista
Basta o teu sorriso.
Basta acreditar
Deixar ficar
De mansinho,
Em seu coração
Assim, com toda ternura,
Feito essa canção



4



Ai voa... Amigaaaaaaaa!!!!
Pousa nessa folha matinal
Umedecida
Venha viver,
Amar,
Voar,
Se perder de vida
Venha ser,
Simplesmente,
Uma borboleta.


5



E quando ouvir essa voz
ultrapassando fronteiras,
Não se amedronte,
acaricie as águas do mar
Imagine,
Sinta:
a amizade é o toque divino do Deus criador,
Eu também,
aqui estarei, sempre amiga
vivendo a vida que tenho para viver,
voando, tão livre... Semelhante as borboletas!!!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

MOMENTO DISCENTE: POESIAS DAS ÁGUAS - LUIZ GUILHERME CONCEIÇÃO (BRASIL)



Foto: Capa do Livro: "O CHAMADO DAS MUSAS"...





POESIAS DAS ÁGUAS

LUIZ GUILHERME CONCEIÇÃO (BRASIL)



A água é...Vida
Ávida faz a gente... Feliz
Mas poucas pessoas entendem a poesia das águas...


Bate
corre,
escorre,
sobe, inclina-se,
desce,
revolve-se,
na terra enrosca-se


E brota na pedra fria...


Professora,
Você é tudo para mim!
Quando a vejo e desta água bebo
Sinto-me que nem uma borboleta
Na vida,
ávido,
sem fim...


IN. CATALÁN,Silvia Aida. SALLES, Vanda Lúcia da Costa(Org.).CONCEIÇÃO, Luiz Guilherme.Poesia das águas."O CHAMADO DAS MUSAS".PÔ-ÉTICA HUMANA: O ENIGMA DO RECHEIO - a Arteterapia ao Sabor da Educação Brasileira.1ª ed.Buenos Aires: Creadores Argentinos,2008, p.15)

HOMENAGEM: JARBAS AGNELLI :Birds on the Wires live at TEDxSP (official version)







" A CRIATIVIDADE É UM VISLUMBRE DA IMAGINAÇÃO DIANTE DA BELEZA HARMONIOSA DA VIDA".


Vanda Lúcia da Costa Salles

quarta-feira, 20 de julho de 2011

POESIA: SONETO DO PROFUNDO AMOR - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Foto: Vanda Lúcia da Costa Salles ( na UNSAM- UNIVERSITAD NACIONAL SAN MARTÍN - Escuelas de Humanidades-ARGENTINA)


SONETO DO PROFUNDO AMOR

VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)


Este nosso amor entretecido de beleza e dor... De presença e ausência,
não cabe em quaisquer palavras... Sabor e Arte, sim!
Se o poema fere e abre fendas no profundo amor,
cabe a nós, simplesmente, senti-lo e vivê-lo.


Ao teu lado, desperto estradas... Construo sonhos.
Avisto portos e lanço-me ao mar... A vida flui!
Entre poesias, livros e telas pictóricas (nosso ritual templário),
a música jaz como cachoeira e inunda nossos caminhos de estrelas...

Teu corpo cristalino, diáfano ou femente...
energiza esse tempo ensandecido e surreal em que vivemos.
Cremos ser possível... A alma enamorada... O Tudo e o Nada!

Meu corpo age na mesma medida... E urde
com esperança revisitada... E nesse teu riso
meu próprio riso espelha-se : " me /dito no Mito". Oh, poética amada!




SONETO DEL PROFUNDO AMOR

Este nuestro amor entretejido de belleza y dolor... De presencia y ausencia,
no vive en cualquier palabra... Encanto y Arte. !Sí!
Si el poema hiere y abre sendas en el profundo amor,
nos cabe, simplemente, sentir y vivirlo.


A tu lado, libero caminos... Construyo sueños.
Avisto puertos y me lanzo al mar... !Fluye la vida!
Entre poesías, libros y telas pictóricas (nuestro ritual sagrado),
la música yace como cascada e inunda nuestros caminos de estrellas...

Tu cuerpo cristalino, diáfano y trémulo...
energiza ese tiempo enloquecido e irreal que vivimos.
Creemos que es posible... El alma enamorada... !El Todo y la Nada!


Mi cuerpo obra en la misma medida... Y trama
con repetida esperanza... En esa, tu risa,
mi propia risa se refleja: " me/dito en el Mito" !Oh, poética amada!


In: ZINNY, Fernando(Org). Poesia em trânsito/Poesía en tránsito.Brasil/Argentina. (SALLES, Vanda Lúcia da Costa.Soneto do Profundo Amor. p.82-83)1ª ed.Buenos Aires: La Luna Que,2010), Supervisão Geral de Silvia Long-Ohni.

* Traducción de Silvia Aida Catalán (Argentina)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

NOTA DE FALECIMENTO: ERNESTO GOLDAR (ARGENTINA)

Queridos amigos:



Hace apenas unos minutos me ha llegado la noticia del fallecimiento de Ernesto Goldar, poeta al que, desde siempre, le he brindado mi admiración, pero, más allá, ser humano de excepción, amigo, desde hace muchos años, como pocos son los amigos verdaderos que uno lleva puestos en la vida. Siempre dado, afectuoso, compañero en todo momento, jamás un sesgo de egolatría ni de soberbia, de una ternura poco común y de una alegría siempre vigente, carácter con el que, en toda ocasión, acompañó y participó con ánimo desbordante de todas mis propuestas y hasta de las más aparentemente disparatadas, como lo pudo ser esta Poesía en Tránsito, Antología bilingüe portugués – español que ha resultado ser una de sus últimas participaciones editoriales.



Como jurado para la Faja de Honor de la SADE 2011, junto con Jorge Sichero y Marta de París, le otorgamos esa distinción realmente merecida, premio que, por cuestiones administrativas y de organización interna no tuvo lugar para efectivizarse.



Hace apenas unos días compartimos en Gente de Letras su presentación del poemario de María Judith Molinari y pocos días después una cena y festejo en el que supimos conversar y reír como siempre, con su habitual buen humor y también su habitual entrega del abrazo afectuoso y profundo.



Amigos míos, quiero decirles, quiero que sepan que se nos ha ido de este mundo un poeta excepcional y un ser humano de los que quedan, acaso, demasiado pocos. No tengo todavía los datos de su velatorio porque esta noticia es apenas reciente, pero prometo hacerles llegar la información enguanto la tenga.



Sincera y profundamente dolida

Long

Silvia



PD: Acompaño la presente con una breve biografía y los poemas editados en Poesía en Tránsito



ERNESTO GOLDAR







Nacido en Buenos Aires y arquetípico transeúnte de esa ciudad, ha sido periodista y docente universitario. Acreditado ensayista, se le deben más de veinte libros dedicados a puntos de historia política, de sociología y de conexiones literarias de esos temas. Por mucho tiempo apenas si se difundió su obra poética, de la que dan cuenta hasta el presente sólo dos títulos: Feria de San Telmo, de 1977 e Instinto de conversación, aparecido tres años más tarde. Sin embargo, en los años últimos el reconocimiento a su condición de poeta se ha ido afianzando y hoy se lo considera uno de los más representativos de la poesía argentina actual, dentro de una línea de ternura descriptiva y reflexiva estrechamente adherida a perspectivas existencialistas del hombre, y que procura volcar lucidez sobre sus desencantos, limitaciones, pérdidas e incoercible ansia de pervivencia.

egoldar@redynet4.com.ar





Nascido em Buenos Aires e arquétipico transeunte dessa cidade. É jornalista e docente universitário. Renomado ensaísta, escreveu mais de vinte livros dedicados a pontos de história política, de sociologia e de conexões literárias com esses temas, num enfoque transdisciplinar.

Por muito tempo apenas se difundiu sua obra poética, das que dão conta até ao presente somente dois títulos: Feira de San Telmo, de 1977 e Instinto de conversação, surgido três anos mais tarde. Sem dúvida, nos últimos anos o reconhecimento a sua condição de

poeta e atualmente é considerado um dos maiores representantes da poesia argentina contemporânea. Dentro de uma linha de ternura descritiva e reflexiva, estreitamente aderida as perspectivas existencialistas do homem, o poeta que é, procura lançar lucidez

sobre desencantos, limitações, perdas e incoercível ânsia de sobrevivência.





Traduções de Vanda Lúcia da Costa Salles



AHORA



Sucede que gusta oír silbar a la gente.

El silbido es personal, anónimo,

viene como un mensajero atravesando las celosías y las puertas.



Se supone que el hombre que silba está contento,

hace un trabajo agradablemente monótono,

piensa algo ocurrente para contarle a la mujer,

siente aproximarse la hora del vino y la comida.



Los hombres soplan con delicadeza la alegría

cuando echan aire caliente al hueco de la mano

o aire frío a la sopa,

cerrando así los ojos,

creadores de esa melodía trivial que se les metió

entre los labios estirándolos para el beso

que dura el tiempo exacto de la melodía.



Silbadores de todos los países

no paren de silbar,

únanse por lo menos

en los compases cortitos de una canción.

--

De Instinto de conversación, 1980



AGORA



Acontece que gosta de ouvir as pessoas assobiar.

O assobio é pessoal, anônimo,

vem como um mensageiro atravessando as gelosias e as portas.



Supõe-se que o homem que assobia esteja contente,

faz um trabalho agradavelmente monótono,

pensa algo corriqueiro para contar à mulher,

sente aproximar-se a hora do vinho e da comida.



Os homens sopram com delicadeza a alegria

Quando lançan ar quente ao oco da mão

ou ar frio na sopa,

fechando assim os olhos,

criadores dessa melodia trivial que se infiltrou

entre os lábios estirando-os para o beijo

que dura o tempo exato da melodia.



Assobiadores de todos os países

não parem de assobiar,

unam-se pelo menos

nos compassos curtinhos duma canção.

--

Do Instinto de conversação, 1980





LAS COSAS POR SU NOMBRE



Si es necesario aclarar qué sección

prefiero de tu cuerpo,

me quedo con tus manos.



Si es urgente indicar qué me llevaría de tus manos

en el caso cierto de partir de viaje,

yo pediría la quietud con que tiemblan

cuando a veces –como de común sucede –

no nos ponemos de acuerdo o discutimos.



Y si es posible trasladar un instante

para aprisionarlo en el recuerdo,

elijo ese momento de la pasión con ellas,

cuando tus manos se arman para ejecutar ese juego

de guerra que las mueve y conforma.

--

De Instinto de conversación, 1980.



AS COISAS POR SEUS NOMES



Se é necessário aclarar que secção

prefiro de teu corpo,

fico com tuas mãos.



Se é urgente indicar que me levaria de tuas mãos

no caso certo de partir de viagem,

eu pediria a quietude com que tremem

quando às vezes –como de comum acontece–

não concordamos ou discutimos.



E se é possível trasladar um instante

para aprisioná-lo na lembrança,

elejo esse momento da paixão com elas,

quando tuas mãos se armam para executar esse jogo

de guerra que as movem e conforma.

--

De Instinto de conversação, 1980



UN DILEMA ESTUPENDO



Vos sabés bien que si por las mañanas

es tuya la libertad de despertarme,

no te cuento mis sueños.



No puedo,

te afligirían demasiado.

Me arrogo pues el derecho de usar mis libertades,

de concurrir a las reuniones nocturnas de la secta

donde se encienden diálogos y escenas,

allí donde pocas veces estás, pero que en todas

otra mujer parecida a un sucedáneo me invita

a menudeos caprichosos, gracias en común,

intimidades muy satisfactorias.



Por eso, cuando me despierto, tengo dificultad

en reconocerte, pero al advertir tu rostro matutino

siento que se parece tanto a una caricia que lava

que la libertad de la realidad

es la libertad que más me gusta.

--

De Instinto de conversación, 1980





UM DILEMA ESTUPENDO



Vós sabeis bem que se pelas manhãs

é tua a liberdade de despertar-me,

não te conto meus sonhos.



Não posso,

afligir-te-iam demasiado.

Arrogo-me pois o direito de usar minhas liberdades,

de concorrer às reuniões noturnas da seita

onde se acendem diálogos e cenas,

ali, onde poucas vezes estás, porém o que em todas

outra mulher parecida a um sucedâneo convida-me

a minúcias caprichosas, graças em comum,

intimidades muito satisfatórias.



Por isso, quando me desperto, tenho dificuldade

em reconhecer-te, porém ao perceber teu rosto matutino

sinto que se parece tanto a uma carícia que lava

que a liberdade da realidade

é a liberdade que mais gosto.

--

De Instinto de conversação, 1980





EDAD DE JUBILARSE



He leído

–no sé en cuál tratado de esos eruditos

que el amor se extingue.



Como la propiedad privada o el estado,

según las celebraciones socialistas;

como el pescado,

cuando media acción de gracias y arrepentimiento

reconociendo las fórmulas paulinas;

semejante a un vicio, para galenos y colegas,

igual que esta vida que se va según la metafísica.



Si las comparaciones sirven para algo,

en su propósito de dar fisonomía al postulado,

podemos concordar que entre vos y yo

la cosa terminó hace rato.

--

De Instinto de conversación, 1980



IDADE DE APOSENTAR-SE



Li

–não sei em qual tratado desses eruditos–

que o amor se extingue.



Como a propriedade privada ou o estado,

segundo as celebrações socialistas;

como o pescado,

quando media ação de graças e arrependimento

reconhecendo as fórmulas paulinas;

semelhante a um vício, para galenos e colegas,

igual que esta vida que se vai segundo a metafísica.



Se as comparações servem para algo,

em seu propósito de dar fisionomia ao postulado,

podemos concordar que entre você e eu

a coisa terminou faz tempo.

--

De Instinto de conversação, 1980





TRASTORNO DE CONDUCTA



En días como éste,

cuando se me dan todas en contra y la pesadumbre

se instala como un zapato en la cabeza,

confieso que a pesar de lo perdido me complazco

en presentir que dentro de tres, cuatro semanas,

empiece nuevos planes y también a amar,

como el obstinado que se interna

para la séptima operación de próstata.

--

De Instinto de conversación, 1980.





TRANSTORNO DE CONDUTA



Em dias como este,

quando todas as coisas vão contra e a aflição

se instala como um sapato na cabeça,

confesso que apesar das perdas me comprazo

em pressentir que dentro de três, quatro semanas,

comece novos planos e também a amar,

como o obstinado que se interna

para a sétima operação de próstata.

--

De Instinto de conversação, 1980

quinta-feira, 7 de julho de 2011

VÍDEO: SONETO DO PROFUNDO AMOR- Vanda Salles Y Silvia Catalán






* Este poema está na voz da poeta Vanda Lúcia da Costa Salles, e é de sua autoria. Foi postado no youtube por Silvia Aida Catalán, poeta argentina que o preparou quando do Intercâmbio T.A.A.R. (Argentina/Brasil)

terça-feira, 5 de julho de 2011

POESIA: NO INSTANTE DE NÓS - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)


Foto: Iguaba (RJ)-Brasil


NO INSTANTE DE NÓS


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Disparates, dissestes ser
(o que entre o infinito do céu azul,
este mar,
os coqueiros,
estes arranjos de moringas de barro
e a fecundidade de nossa alegria
ao entardecer...De um Domingo)
tudo aquilo que esmaga a nossa imanente saudade, agora.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

POESIA: QUEBRANDO OS MUROS DO SILÊNCIO - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)*


Foto: Capa do livro " NÚNCIA POÉTICA", de Vanda Lúcia da Costa Salles


QUEBRANDO OS MUROS DO SILÊNCIO


A Javier Sicila (México)


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



No silêncio do dia
com o coração em frangalhos,
diante de tantas perdas,
o poeta negou-se a cantar
Mas a poesia se fez presente
e toda a gente na praça Mexicana cantou
A canção se fez mais longe,
acompanhando seus passos
formando a caravana contra a violência
imperante
nessa pós-modernidade
Há quem diga
que o Sol acariciou as estrelas.



O certo é:
a poesia içou-se toda,
quebrando os muros do silêncio





( In:Vanda Lúcia da Costa Salles, Dourada Cotovia, 2011)

*VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES: nasceu em Italva, interior do Rio de Janeiro, Brasil, em 25 de abril de 1956. É escritora, poeta, ensaísta, artista plástica, tradutora e conferencista.Graduada em Letras/Português-literaturas, pela UERJ/FFP;Pós-Graduada em Literatura Infanto-Juvenil pela UFF;e em Arteterapia na Saúde e na Educação pela pela UCAM.Catedrática de Literatura do Museu Belgrano(Argentina), ortogada pelo Fundador e Diretor Dr. Ricardo Vitiritti; Diretora Internacional do Taller Artístico Alas Rotas-Alitas de América, nomeada pela Fundadora e Diretora Geral do T.A.A.R., em Argentina Srª Silvia Aida Catalán; Fundadora e Diretora do ENLACE MPME MUSEU PÓS-MODERNO DE EDUCAÇÃO.

Publicou: No tempo distraído (narrativas, Ágora da Ilha,2001),
Diversidades e Loucuras em Obras de Arte- um estudo em Arteterapia (ensaio, Ágora da Ilha, 2001),
A palavra do menino e as abobrinhas ( infanto-juvenil), HP.Editora,2005), O chamado das musas.Pô-Ética Humana: o enigma do recheio- a arteterapia ao sabor da educação brasileira(pesquisa poética em arte e educação, Creadores Argentinos, 2008; Núncia Poética (poesias, Cbje,2010).

Participa também das seguintes antologias:
Os melhores poetas brasileiros Hoje/1985(Shogum Editora, 1985), III Encuentro Nacional de Narradores y Poetas - Unidos por las Letras!-2009-Bialet Massé (Córdoba, Argentina,2009),
Poesia em Trânsito-Brasil/Argentina (La Luna Que, Buenos Aires, 2009, e
1º Antología Literaria Nacional e Internacional 2010 " Ser Voz en el Silencio, S.A.L.A.C. va.Carlos Paz, Córdoba-Argentina (Galia's, Editora Independiente,2010.

domingo, 26 de junho de 2011

Martinho da Vila - Tom Maior ao vivo DVD

HOMENAGEM: NA ALEGRIA DO TEU SORRISO- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)

NA ALEGRIA DO TEU SORRISO


A Martinho da Vila (Brasil)


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




Um pouco mais, magna obra
de sua voz e no sorriso largo,
enlaço
essa alegria que nos contagia
e segue... Quebrando os muros do silêncio.
Poesia e vida!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

POESIA: NO BROTO- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Foto: Gato e Flor.



NO BROTO


à Fátima Inácio Gomes(Portugal)


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)







De quando em quando:
Gato e flor, não, não se estranham. Um nada aqui se faz.
No voo: solidão é casario, penso doida. No vão das coisas, a chave me agita toda.
Aplaino o grito, na lucidez do parto. Indago ao tempo: o que me destoa?
No broto, a queda livre se engraça lépida... E rasga o ventre da Liberdade.
Em desalinho
( no avesso do avesso),
como pimenta e gergelim.
Poesia arvora-se, no dentro
Traços e mãos se apetecem. Um gosto travo na mesma língua.



No olho do gato: desejo em flor!

sábado, 18 de junho de 2011

POESIA: AH, SE EU SOUBESSE... - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)


Foto: Raíssa, Miguel e João Pedro




AH, SE EU SOUBESSE...


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)


Não, eu não sabia
que a vida é simplesmente isso:na escolha, aprendizagem.
No livre-arbítrio, a paisagem
revela-se, passagem.
Ah, se eu soubesse... Disse a anciã, tão desvalida.




AH, SI JE SAVAIS...



VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)


Non, je ne sais pas
que la vie est simplement ceci: dans le choix l'apprentissage.
Dans la volonté libre, le paysage
se révèle être de passage.
Oh, si je savais ... Dit la vieille femme, si impuissant.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

POESIA: BOM DIA, ESCRITORES! - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)


Foto: Vanda Lúcia da Costa Salles recebendo o Diploma da S.A.L.A.C., no Encontro de Narradores e Poetas-Villa Carlos Paz, Córdoba, Argentina.




BOM DIA, ESCRITORES!


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




Na palavra, o dia arvora-se e segue
como pássaro altaneiro
na liberdade das asas.
No frescor do dia... Ave, escritores!
A pena corre, na escrita
escorre saudosa lágrima
e a língua dita
o bâlsamo brejeiro:
Bom dia, escritores!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

POESIA: EM UM TETO DE SAPÊ - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)*



Foto: Pintura de Vanda Lúcia da Costa Salles- Plástica s/tela-2010



EM UM TETO DE SAPÊ


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)


ao longe, o que se vê, apenas é
uma proposta de uma simples ternura
alinhavada, nas pontas,
bordadas de sol



em um teto de sapê nem sempre se vê
o que se quer tão perto... E a Lua vai e vem
entretanto, a sina mostra e grava
aqui assim, além das palhas do capim, e
da imensidão deste céu carmim



tão perto, apenas é, o que se vê
uma alegria plena,assim como a sua
endoidecendo todo o meu ser de luz, tão clara e límpida
a vida pede um dengo
de fruta madura no pé
tal qual essa manga exposta
no verde-mar da menina de teus olhos.





*VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES: nasceu em Italva, interior do Rio de Janeiro, Brasil, em 25 de abril de 1956. É escritora, poeta, ensaísta, artista plástica, tradutora e conferencista.Graduada em Letras/Português-literaturas, pela UERJ/FFP;Pós-Graduada em Literatura Infanto-Juvenil pela UFF;e em Arteterapia na Saúde e na Educação pela pela UCAM.Catedrática de Literatura do Museu Belgrano(Argentina), ortogada pelo Fundador e Diretor Dr. Ricardo Vitiritti; Diretora Internacional do Taller Artístico Alas Rotas-Alitas de América, nomeada pela Fundadora e Diretora Geral do T.A.A.R., em Argentina Srª Silvia Aida Catalán; Fundadora e Diretora do ENLACE MPME MUSEU PÓS-MODERNO DE EDUCAÇÃO.

Publicou: No tempo distraído (narrativas, Ágora da Ilha,2001),Diversidades e Loucuras em Obras de Arte- um estudo em Arteterapia (ensaio, Ágora da Ilha, 2001),A palavra do menino e as abobrinhas ( infanto-juvenil), HP.Editora,2005), O chamado das musas.Pô-Ética Humana: o enigma do recheio- a arteterapia ao sabor da educação brasileira(pesquisa poética em arte e educação, Creadores Argentinos, 2008; Núncia Poética (poesias, Cbje,2010). Participa também das seguintes antologias: Os melhores poetas brasileiros Hoje/1985(Shogum Editora, 1985), III Encuentro Nacional de Narradores y Poetas - Unidos por las Letras!-2009-Bialet Massé (Córdoba, Argentina,2009), Poesia em Trânsito-Brasil/Argentina (La Luna Que, Buenos Aires, 2009, e 1º Antología Literaria Nacional e Internacional 2010 " Ser Voz en el Silencio, S.A.L.A.C. va.Carlos Paz, Córdoba-Argentina (Galia's, Editora Independiente,2010).

quinta-feira, 12 de maio de 2011

ATENÇÃO: CONCURSO POÉTICO INTERNACIONAL 2011!!!

CONCURSO POÉTICO INTERNACIONAL 2011

“Familia global: Diálogo y comprensión mutua”

Adhesión al Año Internacional de la Juventud (Agosto 2010-Agosto 2011)



"Puesto que las guerras nacen en la mente de los hombres, es en la mente de los hombres donde deben erigirse los baluartes de la paz"; Preámbulo de la Constitución de la UNESCO (1945).



BASES



1. Objetivo: Las ambiciones egocéntricas por distintos intereses, las confrontaciones todavía vigentes por diferentes razones y las catástrofes naturales o provocadas, parecen dejar a nuestro planeta por momentos al borde del colapso, aunque persiste en nuestro interior el anhelo de paz global. Porque el esfuerzo y el sacrificio de grandes hombres y mujeres de todas las eras, hasta la entrega de su propia vida por esta causa, no puede perderse. Sobre su legado y la base de los valores comunes de todas las culturas y tradiciones espirituales, que dan cuenta de una hermandad universal, un mundo de paz sigue siendo hoy un imperativo irrenunciable, una meta posible, una tarea a realizar y un deber moral ineludible. Se espera que este anhelo quede plasmado en los escritos del Concurso Poético Internacional “Familia global: Diálogo y comprensión mutua”. Su lema surge del tema del Año Internacional de la Juventud (Resolución ONU: A/RES/64/134): “Diálogo y comprensión mutua”, que tiene “como objetivo promover los ideales de paz, respeto de los derechos humanos y solidaridad entre las generaciones, las culturas, las religiones y las civilizaciones”.



2. Formalidades: El Concurso Poético Internacional “Familia global: Diálogo y comprensión mutua” está abierto a poetas, artistas, estudiantes y toda persona que se sienta inspirada en expresar un contenido de valor universal sobre esta temática. Cada participante podrá presentar hasta dos poemas en lengua española y deberá hacer constar en los mismos sus datos personales: Nombre y apellido, y procedencia del autor: ciudad, provincia y país. También un teléfono y un correo electrónico a fin de darles a conocer la evaluación del Jurado, el poema ganador y los que se hagan acreedores de las menciones. El formato será una poesía escrita en verso, de una extensión que no exceda una carilla de una hoja tamaño A4, letra N° 12.



3. Lanzamiento del Concurso: Jueves 12 de mayo de 2011, a las 19.00 horas, en Tacuarí 202, 8° Piso de la Ciudad Autónoma de Buenos Aires, en la Celebración del Día Internacional de la Familia 2011 (fecha ONU).



4. Cierre de recepción: Viernes 12 de agosto de 2011. El poema puede acercarse personalmente en sobre cerrado a la sede de calle Tacuarí 202 - 8° Piso (CP 1071 - Buenos Aires), de lunes a viernes de 14.00 a 19.00 horas; enviar por correo postal a la misma dirección o por e-mail a: concursoupfarg@gmail.com



5. Jurado: Estará integrado por la Prof. Bertha Bilbao Richter, docente en el ISER, miembro del Instituto Literario y Cultural Hispánico (ILCH) y de la SADE; la Lic. Liria Guedes, escritora y Faja de Honor de la SADE, integrante de la Asociación Americana de Poesía y del ILCH; Mabel Fontau, escritora y Faja de Honor de la SADE, miembro del ILCH y de Gente de Letras; Donato Perrone, miembro del Ateneo Poético Alfonsina Storni, del Rincón Lírico del Café Tortoni y del Grupo de Poetas Livres de Florianópolis (Brasil); y un representante local de la Federación para la Paz Universal (UPF); todos Embajadores para la Paz de la UPF. El fallo del Jurado será inapelable y tendrá facultad para resolver cualquier cuestión no contemplada en estas Bases.



6. Madrina: El Concurso tendrá como Madrina a la poeta brasileña Marina Fagundes Coello, escritora bilingüe (portugués-español) de destacada trayectoria cultural en Sudamérica e integrante de distintos círculos literarios de la región.



7. Premios: El poema ganador será leído por el autor, o alguien que él designe, en el Acto de premiación. También se le entregará un Diploma de reconocimiento y se difundirá el poema a nivel nacional e internacional. Además, se otorgarán cuatro Menciones de honor, cinco Menciones especiales y dos Menciones con sus correspondientes diplomas. Todos los que obtengan una distinción se les obsequiará en la ocasión libros donados a la Institución patrocinadora del Concurso.



8. Acto de premiación: La entrega de reconocimientos tendrá lugar en la Celebración del Día Internacional de la Paz, en un acto artístico-cultural-interreligioso, en adhesión a la fecha ONU (resolución 36/67), que realizará la Federación para la Paz Universal (UPF) de Argentina en septiembre en Buenos Aires, cuya fecha y horario se informará oportunamente.



9. Organización: La UPF, cuyos lemas son: “La esperanza de todas las eras es un mundo unificado de paz” y “Una familia global centralizada en Dios”, organiza este Concurso Poético Internacional con el auspicio de la Fundación Educativa Internacional (FEI).




10. La sola participación de este Concurso implica la aceptación de estas Bases.


FEDERACIÓN PARA LA PAZ UNIVERSAL (UPF) (Status ECOSOC en la ONU)

UPF Argentina: Tacuarí 202 - 8º Piso - Buenos Aires - Tel: 0054-11-4343-3005 - unaprensa@yahoo.com.ar - www.upf.org

sexta-feira, 6 de maio de 2011

HOMENAGEM: Y ME QUEDÉ SIN LUZ - SILVIA AIDA CATALÁN (ARGENTINA)






Foto: Logo T.A.A.R. ( desenho do logo de autoria de Vanda Lúcia da Costa Salles -Brasil- doação feita ao T.A.A.R.)






Foto: Silvia Aida Catalán (Argentina)



Y ME QUEDÉ SIN LUZ




A Mamá : María Aida Sotomayor / Junco Eterno
1917-2011 (Q.E.P.D)


…y fue allende, tras la cortina temporal
en la que fuiste a morar detrás del tiempo,
cuando cegaras tus párpados a mi luz,
que te situaste en el azur de la Cruz del Sur.

… y es allí, do consigo vislumbrar
tu pureza en el esplendor de los astros,
todavía pendiendo de la reina noche,
todavía en los balcones de la luna.

Madre Amada, Junco Mío:
¡Sálveme Dios en esta hora absurda
en la que trepas peldaño a peldaño,
sin más atavío que tu sombra a irradiar los cielos!

Yo preciso enquistar mi ostra a tu corteza,
hundirme en el lagar de tu fragancia,
asir al tallo y a la frágil corola mi quebranto
y entonces, resistir la furia del cíclope en este invierno.

Yo demando se enciendan los cirios del mundo
y guíen mi camino hacia tu infinito pecho.
Yo demando se disipe el piar de las aves
sobre el frescor de la alfombra do reposas.

Mas es grande el Altísimo en su bondad
que es hincada ante Él que imploro calma
a la hora de tu hora Madre Amada,
donde cunde el prieto ante mis ojos ciegos .

Autor: Silvia Aida Catalán
Libro Obertura

sábado, 30 de abril de 2011

POESIA: SONETO - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




Foto: Ilha Dálmatas



SONETO


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




Ah! Se a fina brisa que agasalha essa alvorada
estendesse o manto e nos abrigasse leve
como mãos suaves nos acariciaram um dia,
mesmo fosse um instante ao nascer


E divina propusesse o encanto dessa melodia
a cantar as coisas como há que ser
nessa linda voz que contagia o mundo
como poesia gardiã do ser


E os pirilampos acendessem faros
iluminando as horas do amanhecer tão raro
de perfumadas folhas em ramos estelares


Assim quem sabe, a maré matreira não vire este barco
nesse mar revolto que nos leva aos trancos,
deixando-nos, pouco a pouco, à mercês do fado

sexta-feira, 29 de abril de 2011

ATENÇÃO: GALIZA CO GALEGO ACTO PÚBLICO A PROL DA EDUCACIÓN EN GALEGO O VERNES 29 DE ABRIL NA CASA GALEGA DA CULTURA EN VIGO (ESPANHA)





Foto: Bandeira da Espanha





Foto: Bandeira de Vigo (Espanha)



Foto: Escudo de Vigo (Espanha)




Foto: Praça de Vigo (Espanha)







GALIZA CO GALEGO ACTO PÚBLICO A PROL DA EDUCACIÓN EN GALEGO O VERNES 29 DE ABRIL NA CASA GALEGA DA CULTURA EN VIGO




A Comisión Promotora Galiza co Galego, en colaboración coa plataforma Prolingua, invítao a participar no acto público a prol da educación en galego que terá lugar o venres 29 de abril, en horario de 20:00 a 21:30 horas, na Casa Galega da Cultura situada na Praza da Princesa do Concello de Vigo.

Programa:

Presentación a cargo de dona Iolanda Veloso Ríos, concelleira da Área de Xuventude, Igualdade e Normalización Lingüística do Concello de Vigo.

Relatorios:

“Razóns para educar en Galego”.
Relatorio a cargo de D. Manuel Bragado Rodríguez, licenciado en Ciencias da Educación, mestre de educación infantil e primaria, ex presidente da asociación pedagóxica Nova Escola Galega e director xeral de Edicións Xerais de Galicia.

“Linguas minorizadas europeas en proceso de normalización”.
Relatorio a cargo de D. Xosé-Henrique Costas González, lingüista, director de Normalización Lingüística e vicerreitor de Extensión Universitaria da Universidade de Vigo.

“Construíndo futuro; escolas en galego”.
Relatorio a cargo da Comisión Galiza co Galego, con información sobre o traballo desenvolvido cara a facer efectivo o noso dereito á educación en galego.

Grazas ao apoio das/os nosas/os socias/os e dos preto de 3.000 compromisos acadados do movemento popular de Galiza co Galego, podemos realizar actos divulgativos como este.

Agradeceriamos a súa asistencia a este acto, así como a divulgación deste comunicado.


O presidente.
Francisco X. López (de Limiar)

Mais información en:

http://limiargalego.blogspot.com/
Apoio económico, participación e afiliación en:
http://limiargalego.blogspot.com/p/afiliacion-cgg.html
Contactos: comisiongalizacogalego@gmail.com Telf: 629891145

Situación do lugar do acto: Casa Galega da Cultura
Enderezo: Praza da Princesa, 2, 36202 Vigo
Coordenadas de localización conforme Google Earth:
42º 14' 18.68” N / 8º 43' 32.21” O




*VIGO:

Vigo - está situado em um paraíso natural. Localizado na foz do rio que dá o seu nome e está rodeado por belíssimas praias. É a maior cidade da Galiza, com uma população de aproximadamente 300.000. A oferta da cidade é muito ampla: desportos aquáticos, shows de rock, o mercado de Peter, as Ilhas Ciés ... Em geral, devido à sua localização e tamanho, Vigo é uma cidade muito atraente como destino turístico.

Tem uma longa história. Desde as suas origens celtas e assentamento romano até ao objecto militar para os gostos de Francis Drake, Napoleão e impérios como o turco.

Hoje é uma cidade próspera, fortemente industrial, com actividades tão importantes como a pesca, na zona franca, a indústria automóvel, a pedra e a construção naval.

Como paraíso natural é inevitável visitar as Ilhas Ciés, pertencente ao Parque Nacional das Ilhas Atlânticas, a praia de Samil ou na baía de San Simón. Na cidade pode passear pela cidade velha, visitar o mercado de A Pedra e a Catedral de Santa Maria. O Museu de Arte Contemporânea, Marco, e o Museu do Mar de Galicia. O Monte de O Castro se encontra no centro da cidade e da Porta do Sol, Ponte de Rande, que cruza o rio de um lado para o outro, é um emblema da cidade e oferece uma vista maravilhosa.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

POESIA: POR QUE A VIDA- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Foto: Matisse ( Luxo, calma e volúpia)



POR QUE A VIDA


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



por que a vida é quase assim,
mais que tudo que eu li
mais, muito mais
que
as histórias de ti,
mais,e além
dessa ostra que não explica
o aguçado alvoroço
dessas crianças pulando algumas ondas
na praia do Meio



por que a vida é quase assim,
porque assim é o sabor
mais, muito mais
que luxo, calma e volúpia
Mas presente no sonho de Matisse
Com formato exato,
conciso,
como esta saudade que nos toca, agora.

terça-feira, 19 de abril de 2011

HOMENAGEM: EU ACUSO - IGOR PANTUZZA WILDMANN (BRASIL)*



Foto: Bandeira do Brasil





Foto: Professor Kássio Vinícius Castro Gomes (O crime ocorreu em Belo Horizonte em 8/12/2010,morto a facadas dentro do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul de BH),conforme se pode verificar no noticiário da imprensa mineira e paulista.




J’ACUSE !!!

(Eu acuso !)



(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)



« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. (Émile Zola)

Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...) (Émile Zola)





Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.



O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.



Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.



No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...



E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”



Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...



Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.



Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:



EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;



EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;



EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;



EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;



EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;



EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;



EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;



EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;



EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;



EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;



EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito;



EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;



EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição;



EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;



EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;



Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.



Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.



A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”



Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.





*IGOR PANTUZZA WILDMANN

Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

HOMENAGEM: AMIGOS - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




Foto: Hayter






AMIGOS



VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Dei cordas ao meu coração
e ele retribuiu-me com ardor
Enlaçou-vos nessas fibras delicadas,
que a amizade floriu
( como só ela sabe ),
dessa maneira singular,
entre prosa & poesia,
para despertar através de nossas bocas
um dos enigmas da vida.


E é sempre a utopia a aliviar as cicatrizes!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

HOMENAGEM: A MALDIÇÃO DO PROFESSOR - SILAS CORREA LEITE (BRASIL)



Foto: Bandeira do Brasil



Foto: Silas Correa Leite (Brasil)




A MALDIÇÃO DO PROFESSOR


SILAS CORREA LEITE (BRASIL)




Conta a lenda que, quando Deus libe­rou o conhe­ci­mento sobre como ensi­nar os homens, deter­mi­nou que aquele “saber” fica­ria res­trito a um grupo muito sele­ci­o­nado de sábios. Mas, neste pequeno grupo, onde todos se acha­vam “semideuses”, alguém traiu as deter­mi­na­ções divinas…Aí acon­te­ceu o pior!



Deus, bravo com a trai­ção, resol­veu então fazer valer alguns mandamentos:





E DECIDIU A CRUZ DO PROFESSOR:


1º — Não terás vida pes­soal, fami­liar ou sen­ti­men­tal.

2º — Não verás teu filho cres­cer.

3º — Não terás feri­ado, fins de semana ou qual­quer outro tipo de folga.

4º — Terás gas­trite, se tive­res sorte. Se for como os demais terás úlcera.

5º — A pressa será teu único amigo e as suas refei­ções prin­ci­pais serão os lan­ches, as piz­zas e o china in box.

6º — Teus cabe­los fica­rão bran­cos antes do tempo, isso se te sobra­rem cabe­los.

7º — Tua sani­dade men­tal será posta em che­que antes que com­ple­tes 5 anos de tra­ba­lho;

8º — Dor­mir será con­si­de­rado período de folga, logo, não dor­mi­rás.

9º — Tra­ba­lho será teu assunto pre­fe­rido, tal­vez o único.

10º — As pes­soas serão divi­di­das em 2 tipos: as que ensi­nam e as que não enten­dem. E verás graça nisso.

11º — A máquina de café será a tua melhor colega de tra­ba­lho, porém, a cafeína não te farás mais efeito.

12º — Happy Hours serão exce­len­tes opor­tu­ni­da­des de ter algum tipo de con­tato com outras pes­soas lou­cas como você.

13º — Terás sonhos, com cro­no­grama, pla­ne­ja­mento, pro­vas, fichas de alu­nos, pro­vas subs­ti­tu­ti­vas e não raro, resol­ve­rás pro­ble­mas de tra­ba­lho neste período de sono.

14º — Exi­bi­rás olhei­ras como tro­féu de guerra.

15º — E, o pior.….… inex­pli­ca­vel­mente gos­ta­rás de tudo isso…

16º -- Então, e finalmente então, serás cha­mado de PROFESSOR!











ORAÇÃO DO PROFESSOR


SILAS CORREA LEITE (BRASIL)



Pla­ne­ja­mento que estais no computador

Car­re­gado seja o Vosso Programa

Venha a nós o vosso ensinamento

Seja gerada a ficha de lançamento

Assim no Diá­rio como no email

Não nos deixais cair o apagador

Mais nos livrai do holerite-cebola (que a gente abre e chora)

Assim na HTPC como na Coordenação Pedagógica

Amém



............................................................................







OUTRA ORAÇÃO DE PROFESSOR EM SP


SILAS CORREA LEITE (BRASIL)




Oração de Professor Sofrido do Estado de São Paulo





In Memoriam do Mestre Paulo Freire e de Franco Montoro

(O último governante a valorizar a Educação

pública com respeito, carinho e educação... )







Senhor...

Tende piedade do Professor de São Paulo, pobre Professor

Que nas unidades escolares despreparadas

De uma sociedade consumista no olho do furacão

- E de famílias mal-amadas –

Entre um cínico estado mínimo promovendo muito ouro e pouco pão

Tenta reger as suas tantas duras jornadas

Com um indigno salário pífio, vergonhoso, vão

Trabalhando pesado para suportar a total falta de estrutura na Educação...





Senhor...

Tente piedade do mal-valorizado Mestre, pobre Professor

Também como uma espécie de Sem Teto, Sem Salário, Sem Amor

Que num sistema público sem suporte

Rala como um miserável cão

Mais um holerite desumano, de morte

E a hipocrisia de políticos dessa infame geração

Em que a violência é o Quinto Poder

E o educador atarefado ainda tem que sobreviver

Na falta de justiça e pão...





Senhor...

O Educador para se sustentar

Em vários lugares tem que matar de trabalhar

E da periferia sociedade anônima à escola ser exemplar

Ainda ser assim por isso mesmo digno na docência

Mesmo com o seu triste e desproposital salário de fome

Tem que fazer bicos para prosseguir... continuar

Em Vosso Santo Nome

E o exercício da profissão

Como uma missão; uma luta a travar...





Senhor...

Tente piedade do professor – e dos alunos carentes

Que enfrentam a insensibilidades dos palácios regentes

E sendo filhos desse solo – entre governos insanos, incompetentes

Vão encarando a educação pública com sangue, o suor; essa gente

Sofrendo e seguindo em frente

Com o giz, a régua, o apagador

Sonhando justiça ainda que tardia que valore a educação pública, o seu labor...





E se um dia eu tombar, no exercício da profissão, Senhor

Em que me fiz plantador de sonhos, Educador

Tente piedade do que virá; o próximo Professor

Que ainda virá a se formar...

E que certamente sonhando estará para nos continuar

E também encarar a total falta de incentivo e valor

Como “suBornus” e outras mentiras amorais de governo enganador

Entre tantas hipocrisias

De atitudes falsas, vazias

E dai-nos, pelo menos, o céu de sua recompensa, Senhor

Com uma lousa celeste, e um novo giz, um novo apagador

E uma coroa de glória com novo juízo de valor

Numa lousa de estrelas, pois, seja como for

Aqui na Terra de Bandeirantes com sangue e lágrimas carregamos a nossa dolorosa cruz, de PROFESSOR...



-0-



(Poema da Série “Samparaguai da Força Que Destrói Coisas Belas" – Poemas e Sofrências da Escola Pública, Livro Inédito do Autor)




PORQUE SOU PROFESSOR


SILAS CORREA LEITE (BRASIL)



Para os Educadores da Coordenadoria do Butantã



Sou PROFESSOR porque...amo a vida, amo as pessoas, amo servir e trocar confeitos de sonhos e esperanças.

Sou PROFESSOR porque creio na fé, no conhecimento, e no saber que provoca mudanças essenciais para todos.

Sou PROFESSOR porque... o amor também move moinhos além de remover montanhas, e é pra frente que se anda, é para cima e para dentro que se evolui espiritualmente.

Sou PROFESSOR porque... pássaro que sabe que pode voar mais longe, tem que partir primeiro...

Sou PROFESSOR porque...acredito na distribuição do pão e da água, além da vontade de viver intensamente tecendo somas de vivências e iluminuras.

Sou PROFESSOR porque...confio na beleza da produção de conhecimento e da pesquisa em parceria dinâmica salutar.

Sou PROFESSOR porque...a alma da ciência é a perseverança e o dinamismo da dedicação uma missão como soma pelo viés plural-comunitário.

Sou PROFESSOR porque...a palavra é luz, o livro é estandarte e a troca de bagagens (Ave Paulo Freire) um elo de exortação à vida infinita que é uma eterna busca.

Sou PROFESSOR porque...a união vale o esforço, faz a força do grupo docente e discente irmanados; a união de propósitos em comum faz o acervo ético, e a amizade é uma escada para o alto, para a essência vital do divino amor cósmico.

Sou PROFESSOR porque...sempre me encontro comigo mesmo, a cada aula, cada situação-problema, e quando estou em sala de aula eu me sinto dentro do meu próprio coração.

Sou PROFESSOR porque...lecionar é uma lavra de humanismo de resultados, arados e a estrelas no mesmo canteiro sideral da espécie que é energia, calor e luz.

Sou PROFESSOR porque...dar aulas é oferecer a mão estendida, o ombro amigo, o afeto que se encerra num abraço terno à procura de uma boa mensagem sementeira para o futuro.

Sou PROFESSOR porque...a pedra bruta para se tornar diamante de valor precisa da estima, da lucidez e do fogo da forja que é primordial no caminho do estágio evolutivo seqüencial.

Sou PROFESSOR porque...a docência é missão, é dádiva, é semeadura de tantas estradas que vão dar muito além desse planeta geóide.

Sou PROFESSOR porque... de uma maravilhosa mestra me fiz poeta precoce, de uma educadora meiga me fiz Crusoé, de uma pedagoga diferenciada me fiz baladeiro a oxigenar seixos íntimos, sonhando - nos estudos, no livros, nas aulas - um lugar ao sol e o pote de ouro atrás do arco-íris.

Sou PROFESSOR porque...me respeito e gosto de fazer o que faço, amando para ser amado, me modificando (e moldando-me sempre para melhor) a cada dia, descobrindo sempre novos horizontes pelo olhar do aluno-filho, cada um deles com perspectiva especial de uma alma cidadã.

Sou PROFESSOR porque...faço parte da orquestra dos sensíveis, e me dou, livro aberto, para a biblioteca universal dos dias que são páginas de rostos de seres puros buscando apreendências e letramentos...

Sou PROFESSOR porque...ensinar é levar o aluno enquanto ser e enquanto humanus, para uma viagem ao reino encantado da palavra, do saber e até do conhecimento científico.
Sou PROFESSOR porque...como diz o poeta, o aluno é como a madeira, se for devidamente "tocado" - INSPIRADO! - pode tornar-se flauta.

Sou PROFESSOR porque...minha maior rebeldia é querer mudar o mundo pra melhor, plantando ideais nos corações e mentes de meus canteiros cíclicos que, certamente levarão minha mensagem de amor e fé para o futuro da espécie, uma vida melhor, mais justa.

E, por fim, sou Professor porque assim sou feliz, pareço feliz, semeio sentidos de grandes buscas, com parcerias e vivências de inclusões, e sei que, com certeza, há muito mais luz no processo do ensino-aprendizagem do que no átomo. E sei também que o aluno é uma árvore que tem que ser bem cuidada, bem regada, bem preparada, solidificada com carinho, bem adubada até, para, serenamente crescer e dar flores e frutos. E assim sei da responsabilidade que, com meu trabalho, tenho com a sociedade, com a vida, com o mundo, por isso mesmo espero ser um dia um belo fruto na seara desses alunos que amo tanto.






(*)- Professor de escola pública no estado de SP, o estado mais rico da nação, ganha trinta por cento a menos do que o professor da educação pública do Piauí, o estado mais pobre do Brasil...



Poeta Professor Silas Correa Leite – Origem: Santa Itararé das Artes, Sul de São Paulo, Trabalha e mora em SP, Vila Sonia, Butantã, SP.