quinta-feira, 30 de abril de 2020

PIQUENIQUE- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES





PIQUENIQUE

                            VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES
                             

                                   A  Antoine Compagnon

Estendemos a toalha sobre a relva... Eu, Huidobro, Neruda,
Benedetti e Mistral. Estamos nús.
Ninguém percebe, nos verdes dos olhos teus o mesmíssimo brilho
fulgurante de estrelas um grilo verde no verde musgo da grama
capim-limão cheira longe e vai desejo de seguir o esquivo tapir
nenhum segredo escapa a criança acompanha ao homem e a mulher
que passam sorridente, talvez
enamorados crentes que ninguém desconfia que há um segredo
nos versos desse poema que furtivamente devoro. Huidobro ri.
Neruda observa o suor em minhas têmporas e pede pausa,
enquanto resmunga qualquer coisa nesse instante preciso. Diz Mistral,
um seu poema dedicado à Mariná do Brasil, eles - os insossos emudecem,
não conseguiram descrever a utopia em nós... A não ser... A não ser...
Essa paixão desenfreada, urgente da poesia florir... No dia!...
E com sua irônica mirada Benedetti solta uma gostosa gargalhada
que se oferece despudoradamente largado em nossos lençóis em estrofes
domingueiras, de pernas e braços e cabeças e madeixas e gol,
e tudo o mais.
(Ah!  O que pode a Literatura?!)

                                          



As maçãs,
saborosas, ao ponto
de vermelhas e algumas salpicadas verdes. Um gozo de cor!...
trazidas por Woolf.
Como Woolf? -  Sim!... A mesma, Virgínia Woolf. E, como não?
Nem só de Lusofonia e latinidade vibvemos. Sorrateiramente, introduzi...
Um conto de Wladimir... um outro de Leskov. Pode!...
A inonsequente Madame Davenport esqueceu a chave na porta                                                                       do carro esporte amarelo-ouro feito os doze girassóis de van Gogh.


Da Lomba chegou com o João Tala,
Filomena Vieira também veio. Trouxe uvas,
um queijo briê e o delicado prefácio para o nosso deleite.
Pãezinhos, azeite e um vinho do Porto nas mãos da Dilercy Adler,
sentou-se entre o compadre Salvador Verzi, a galega Adela Figueroa, e.
o nigeriano Niyi Osundare e a poeta venezuelana Astrid Lander.
   Estupefata fico, quem chega?!... Pois é, o saudoso Vinicius de Moraes!
Acompanhava-o a Dora Vasconcellos e o Heitor Villa-Lobos.
Viver é uma delícia!  Que deleite!

       


Esparramou-se na grama... O desejo!,
Entre mim e você há poesia e prazer!
Um jasmim, uma margarida, o 'Rouxinol de Viseu'
'o Príncipe dos Poetas', um camafeu, o andarilho judeu...
Uma cigana, uma guitarra portuguesa, uma lágrima sentida pela passagem
da poeta argentina Silvia Aída Catalã. De pronto,
lembrei-me vendo as unhas descascadas... Que horror!  Urgente modelá-las.
O pensamento corre como um rio de água doce em toda a sua faceirice...
Não há cerimõnias em mar aberto. Convite aberto,
venha quem for de ver e ouvir estrelas!

Compagnon, concede-me esta dança, aqui, em Paris?


Uma ideia surge relampeja forte... Simpatizante leitor (a)>
saiba estrelas vão e vêm,  não em vão...
Eis a questão:

Como se constrói a significação histórica de uma obra de arte?
Estou deverás, a pensar. Minha amante é exigente.
Inicio a leitura...




quarta-feira, 8 de abril de 2020

POESIA: MULHER DAS ESTRELAS I- VANDA SALLES




ÓLEO S/TELA- MULHER DAS ESTRELAS



MULHER DAS ESTRELAS I




visitou-me em sonhos,
uma, duas, três vezes,
imaginei,
talvez...



assim veio,
feito veio ourífero,
quis,
em mim brotar...



brilhou o Sol, inédito
o dia,
assanhou-me cores...
fundiu-se: 
        Sol
                     e Lua!...