quinta-feira, 21 de outubro de 2010

HOMENAGEM: ADÃO VENTURA (BRASIL)*



Foto: Bandeira do Brasil



Foto: Adão Ventura (Brasil)



ALFABETIZAÇÃO


Adão Ventura


Papai
Levava tempo
Para redigir uma carta.


Já mamãe Sebastiana de José Teodoro
Teve a emoção de escrever seu
Nome completo
Já quase aos setenta anos




COMENSAIS


a minha pele negra
servida em fatias,
luxuosas mesas de jacarandá
a senhores de punhos rendados
há 500 anos.



AGORA

É hora
de amolar a foice
e cortar o pescoço do cão.


- Não deixar que ele rosne
nos quintais
da África do Sul.


É hora
de sair do gueto/eito,
senzala
e vir para sala
- Nosso lugar é junto ao Sol.




*ADÃO VENTURA FERREIRA REIS: nasceu em Santo Antonio do Itambé, MG, em 1946. Formou-se em direito pela UFMG e em 1973 a convite da University of New Mexico, foi para os Estados Unidos onde lecionou literatura contemporânea.
Publicou diversos livros, dentre eles A cor da Pele, Texturafro e As musculaturas do Arco do Triunfo, já participou de várias antologias e seus poemas foram traduzidos para o inglês e o alemão. Teve um de seus poemas incluído na antologia Os Cem Melhores Poemas Brasileros do Século, organizada por Italo Moriconi ( Editora Objetiva - SP). Sua poesia mostra-se impregnada pelas questões da negritude e, simultaneamente, por uma simplicidade que a faz legítima, e fluida, ou como escreveu Manoel Lobato: "A iniquidade do mundo e o mistério da vida gritam na sonoridade de seus versos".
Em 2002 publicou Litanias de Cão.
Faleceu em junho de 2004.


SOBRE ADÃO VENTURA


"Adão Ventura Ferreira Reis, que nasceu em Santo Antônio do Itambé, no interior de Minas Gerais, em 1946, assim como Cruz e Sousa e Solano, foi um militante da causa negra. Sua poesia, impregnada de questões da negritude, revela um poeta sensível, sonoro, fluente, preocupado com a situação do negro no Brasil e no mundo. Iniciando os períodos com letras minúsculas e escrevendo África – sempre – com letras maiúsculas, Ventura estimula, com elegância, a altivez e a dignidade do povo negro, que jamais pediu ao europeu para ser escravo no Brasil ou na América do Norte. A projeção do negro nas Américas, como sabemos, é lenta, lentíssima, difícil. O negro, vigiado, policiado por todos os lados, vê-se como O Emparedado, do texto em prosa de Cruz e Sousa. O Brasil, hipócrita, ainda não assumiu o sangue negro a correr em suas veias; o sangue daqueles africanos humilhados pela escravidão, um crime tão hediondo quanto o Holocausto de judeus na Alemanha de Hitler."


http://66.228.120.252/cronicas/850418 -AQUELE OUTRO POETA NEGRO, POR

NELSON MARZULLO TANGERINI

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