Amor- Caravaggio
POEMA À JUDITH TEIXEIRA- O ROUXINOL DE VISEU
"Eu sou — responde o singular tormento —
Eu sou a fria dor do Entendimento,
à luz fria da Verdade, a iluminar—te!"
Judith Teixeira, In. Quem És?
I
Ó Senhora de Mim,que vives assim de
poema em poema
a pintar a vida, àvida de
desejos e volúpia, consciente da
luta,d
esta que nos faz adeptas do
delicioso relicário à luz fina da verdade:
ser mulher e construir-se
cotidianamente, e não é fácil.bem sabes:
Frágil é o dia.
Efêmero o instante e
poético,
esse pôr de sol que incendeia a pele!... Ó mar, dá-me o entendimento,
o saber que o meu querer
no círculo das Musas a bailar no jardim... Ó Rouxinol de Viseu, poeta és, e
a sua fina mão de mulher a guardar o sonho,
a natureza,
a obra- prima e a rima, Ó Musa do desejo e da volúpia!
Escrito nas estrelas de Aldebarã,
todo afã, o segredo
do seu labirinto
arrimo de judia-"Tocha"-, tão Lena de Valois!
II
Mulher é feita para o livre pensar,
nutrir o fruto,
embelezar o caminho... de leve, adocicar as agruras ancestrais...
mas também lançar o barquinho de papel ao mar! Ah, poema flor!
meu amor apeteceu a lira,
o pó,
a dor,
a canção,
sob o luar de Viseu a imaginação é minha.
III
Minha também são as palavras, nuas
na rua,
no cais,
nas janelas,
nas algemas do esquecimento,
no remo,
no leme,
íngreme dos rochedos
no silêncio da língua,
o rio,
a água...
a escorrer do centro da forma...
o néctar e
ao desejo de quero mais: insanciada sou,
como a fria estátua de Bizâncio
a iluminar-te!
Vanda Lúcia da Costa Salles
RJ, 8/01/2019
Pôr do Sol
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