NILTO MACIEL -
BRASIL
entrevista
concedida aos estudantes DO ENSINO FUNDAMENTAL do ciep 121- prof. joadélio
codeço-marambaia-sg-brasil em aula de produção textual e língua portuguesa da
professora vanda lúcia da costa salles
1º) LUIZ
HENRIQUE LIMA DE SOUZA: a) Como se sente
ao escrever livros?
NM – Ao escrever, sinto-me muito
bem, como se realizasse o melhor dos sonhos.
a)
Você batalha muito para poder ser um escritor?
NM – Sim, sempre (desde menino) leio e
escrevo muito. Para me fazer e manter escritor, estudei muito e trabalhei
muito.
b) Qual é o seu objetivo na vida?
NM – Há vários objetivos. O primeiro, ou
o mais importante, é viver como ser humano. Não quero ser herói ou astro
(famoso), porque a vida é muito curta para o heroísmo e a fama.
2º)
ANTONIO CARLOS DE F. SANTOS:
a)
Para você, qual a importância de escrever um novo
livro?
NM – Escrevo
todo dia. E todo dia é importante para mim. Não faço distinção entre
segunda-feira e domingo, carnaval e natal. Escrever me faz bem, muito bem.
b)
Qual a importância desse livro na cultura?
NM – Não sei
a que livro você se refere, mas meus livros são muito importantes para
mim. Como sou sujeito ou personagem da
cultura, como faço parte dela, meus livros são importantes também, embora não
sejam tão importantes como os de Machado de Assis e outros grandes artistas das
letras.
c)
E que exemplo esse livro pode ser na vida de alguém?
NM – Não
escrevo para dar exemplo. Livro não serve para dar exemplo. A não ser como
formação intelectual.
3º) GABRIELA
DA SILVA DIAS:
a)
Qual foi o seu primeiro livro?
NM –
Itinerário, de 1974. São 14 contos curtos.
b)
A idade em que começou como escritor?
NM – Quando
publiquei o primeiro livro eu tinha 29 anos, mas escrevia desde a adolescência.
c)
Por que você quis ser um escritor?
NM – Eu
queria ser jogador de futebol (passei a infância e parte da adolescência a
jogar bola). Depois quis ser revolucionário, guerrilheiro (como Che Guevara),
para derrubar a ditadura e instalar um governo popular socialista. Mas sempre
lendo e escrevendo. Como não consegui ser jogador nem guerrilheiro, dediquei-me
a ler e escrever.
4º) DAVID
PRADO RIBEIRO:
a)
De todos os seus trabalhos, qual foi o mais marcante
em sua carreira profissional?
NM – Não sou
escritor profissional. Mas ganhei alguns prêmios literários. O mais importante
deve ter sido o “Prêmio Cruz e Sousa”, do governo de Santa Catarina, com o
romance “A Rosa Gótica”.
b)
Qual a sua sensação ao escrever o conto “O filho da
Solitária”? Por quê?
NM – Não
digo que senti prazer, porque o personagem é um homem muito sofrido, pois
fizeram dele um bicho (e não deveriam fazer isso com animal nenhum), ao
prenderem-no numa jaula, solitário, por muitos anos. Senti nojo dos que
maltratam pessoas e animais. Muita revolta também.
c)
Qual sua perspectiva em relação ao mundo
contemporâneo?
NM –
Acredito na democracia, no fim das ditaduras, das desigualdades sociais, nos
esportes e nas artes como meios de integração social, paz, progresso.
5º) KERLIANE
REIS:
a)
Você algum dia pensou em parar de ser escritor? Por
quê?
NM – Não
penso em parar, mas um dia deverei parar. Se eu pudesse, seria eterno e
escreveria para sempre. Porque é muito bom escrever.
b)
De todas as suas obras, qual a que mais gosta? Por
quê?
NM – Gosto de
algumas obras, como o romance “A rosa gótica”, o conto “As pequenas
testemunhas” e o poema “Cena doméstica”. Gosto porque gosto e gosto não se
discute.
c)
Qual o seu atual livro a ser lançado no mercado? Qual
a sua expectativa?
NM – Meu
mais recente livro é “Luz vermelha que se azula”, de contos. Foi escrito já
neste século, entre o ano 2000 e 2005. Espero que os leitores gostem dele e que
seja lido e estudado nas escolas.
6º) DAYANE
ISABELA R. CORDEIRO:
a)
No início da sua carreira, você teve algum apoio familiar?
Ou de alguma outra pessoa? De quem?
NM – Meu
irmão Ailton, que faleceu aos 33 anos e era dois ou três anos mais velho do que
eu, me apoiava muito.
b)
Ganhou algum prêmio que significou muito para você?
NM – Já
falei do prêmio de Santa Catarina. Eu me senti muito valorizado e passei a
gostar mais de mim e do que escrevia. Fiquei tão feliz que acreditei que
pudesse transformar em ouro tudo o que eu tocasse, ou seja, escrever obras
maravilhosas sempre que quisesse.
c)
Quando você escreve algum livro, se inspira na vida
real?
NM – Sim,
tudo vem da vida real. Toda arte vem da vida real, por mais absurda ou
fantástica que pareça. Você já viu formigas e urubus comerem um bebê humano? É
o assunto do meu conto “Os urubus e Deus”. É um absurdo, não é? Mas acontece
todo dia.
7º) KEZÍA DE SOUZA RODRIGUES:
a)
Por ser escritor, você deve ter muito pouco tempo para
o lazer ou não?
NM – Sim,
sobra-me pouco tempo para o lazer. Mas consigo gostar de não me divertir.
Quando eu tinha 15 anos, ficava em casa a ler, olhava para a rua, via os
meninos, queria ir me juntar a eles. Mas terminava desistindo de ir brincar.
b)
O que é ser escritor no Brasil? Por quê?
NM – Ser
escritor no Brasil é ser um sonhador. Porque não há muito incentivo, a escola é
pobre, o hábito de leitura é quase inexistente, o livro é muito caro (em
relação ao salário mínimo).
c)
A vida de um escritor é bastante agitada?
NM – Depende
de cada escritor. A minha é muito calma. Passo o dia todo em casa a ler e
escrever. Uma vez por mês sou convidado a participar de palestras, encontros,
lançamentos de livros, feiras, entrevistas, etc.
8º)
JHINIFY MESQUITA DE LIMA DA SILVA:
a)
Você tem algum ídolo, na língua portuguesa?
NM – Tenho
diversos ídolos: Camões, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Jorge de Lima,
Graciliano Ramos e outros.
b)
Qual foi a história mais estranha que você escreveu?
NM – A mais
estranha deve ter sido “Masmorrer”. Um grupo de prisioneiros é abandonado numa
prisão e aos poucos vão se matando. Os mais fortes se juntam para matar os mais
fracos e comer suas carnes, até que o último morre de fome.
c)
Já escreveu algo que não tenha gostado?
NM – Muitos
poemas são feios, fracos, mas mesmo assim eu não os joguei fora. Porque nossos
escritos são como nossos filhos: não podemos jogá-los fora só porque são feios.
9º) DANIELLI
LÚCIA DOS REIS LOURO:
a)
Gostaria de escrever uma obra-prima? Por quê?
NM – Esta
pergunta é uma das mais importantes. Sempre penso nisso. Para mim, só vale a
pena escrever obra-prima. Entretanto, como não sou gênio, nunca escreverei
obra-prima. Como sou bom pai, não desprezo meus filhos feios. Porque são parte
de mim. Se eu os desprezar, estarei desprezando a mim mesmo.
b)
Qual o livro de sua carreira que recomendaria para os
alunos? Por quê?
NM – Para os
menores “Os guerreiros de Monte-mor”; para os maiores “O cabra que virou bode”.
Estou falando apenas dos romances. Não posso falar dos contos, porque não tenho
livros temáticos. São muito misturados: contos de amor, eróticos, de violência,
de crianças, de velhos, de animais, etc, tudo no mesmo livro.
c)
O que você gostaria de dizer ao seu leitor?
NM – Como
escritor, eu diria: leiam mais e mais, até ficarem velhos. Como cidadão: leiam
para a vida, para se tornarem pessoas mais educadas, mais sadias, mais puras,
mais solidárias.
10º) VIVIAN
SIMÃO CUNHA:
a)
O que você prefere ser: Escritor ou Professor? Por quê?
NM – Prefiro
ser escritor, embora goste também de dar aulas, de falar a pessoas curiosas.
b)
Qual o momento mais importante da sua carreira?
NM – Dos
muitos momentos importantes de minha vida de escritor destaco o prêmio Cruz e
Sousa.
c)
Quando era criança, você pensava em ser escritor?
NM – Como já
disse, quando criança, pensava em ser jogador de futebol. Eu lia por prazer,
mas não me passava pela cabeça a possibilidade de escrever como aquelas pessoas
dos livros.
11º)
LORRANE SANTOS SOUZA:
a)
Você daria uma palestra em nossa escola? O que seria
preciso para que isso acontecesse?
NM – Sim,
daria uma palestra ou conversaria com os alunos desta escola, como tenho feito
em outras. Porém, moro muito longe daqui, em Fortaleza.
b)
Qual a
diferença de crônica para conto? Por quê?
NM – A
diferença entre crônica e conto é muito sutil, quase imperceptível, sobretudo
entre o conto sem enredo e a crônica moderna.
Se ambos forem em primeira pessoa, a dificuldade de se ver diferenças
será maior ainda.
c)
Quais são os maiores cronistas contemporâneos brasileiros?
NM – Como
não leio jornais e revistas, não sei quem escreve crônica no Brasil.
12º)
GEISILANE DOS SANTOS BASTOS BARROS:
a)
Se não fosse escritor o que gostaria de ser? Por quê?
NM – Se não
fosse escritor, gostaria de ser compositor de música ou cineasta. A música é a
mais bela expressão da arte. O cinema é mais próximo das pessoas do que o
livro.
b)
O que você pensa sobre o poeta Manoel de Barros?
NM – Manoel
de Barros é um dos maiores poetas brasileiros ou da língua portuguesa.
c)
O que você aconselharia a um jovem escritor?
NM –
Aconselho paciência (não ter pressa em publicar), mais leituras e exercícios
diários de elaboração de poemas, contos, crônicas, artigos.
13º) ANTONIA
VILAUBA VIEIRA PEDRO:
a)
Como você gostaria de ser lembrado pelo povo brasileiro?
NM – Como um
ser humano que não quis ser rico, poderoso, político, empresário e muito menos
ladrão, e se contentou com arte e amor.
b)
Em sua opinião, qual a sua obra-prima?
NM –
Infelizmente, nunca escrevi nenhuma obra-prima.
c)
Eu também sou cearense, você veio de uma família
humilde?
NM – Prazer
em ler a sua pergunta. Sim, vim de família pobre: meu pai era comerciante
pequeno (no Ceará se diz bodegueiro ou dono de bodega), filho de agricultores,
porém muito preocupado (ele e dona Nenen, minha mãe) com os estudos dos filhos.
14º) THAMIRES
BALBINA A. DURVAL:
a)
Sobre o que você mais gosta de escrever? Por quê?
NM – Sobre
os problemas das pessoas, tais como solidão, angústia, dor psicológica,
saudade, amor, porque são assuntos essenciais.
b) É verdade que a vida de escritor é solidão?
NM – Nem
sempre. Muitos vivem em perpétuo burburinho, porque precisam disso para
escrever. Eu prefiro a solidão para viver, pensar e escrever. Para mim, o mais
importante no ser humano é pensar. O homem foi feito para pensar e não para
correr, saltar, dançar, pular, como os outros animais.
c) Leitura e Escrita é...?
NM – Para
mim, ler e escrever são essenciais. Essenciais para mim, não para os outros ou
a sociedade. Ser escritor é ser diferente dos demais seres. Ninguém é escritor
porque quer ser escritor. Os que querem ser escritor não o serão nunca.
15º) VANDA
LÚCIA DA COSTA SALLES:
a)
Caro Nilto Maciel, para uma pesquisa em
Bioecolinguística: o que você aconselharia? Uma entrevista com alunos a um
escritor é um caminho? Por quê?
NM – Nunca
estudei bioecolinguística nem linguística nem literatura. Acredito, no entanto,
ser um bom caminho para o pesquisador uma conversa franca e demorada com alguns
escritores, sobretudo aqueles que falam abertamente, sem esconder nada, sem
querer apenas aparecer.
b)
Conte-nos um pouco sobre a sua mais recente obra
publicada: qual o nome e como foi construí-la?
NM – Tenho
diversas obras mais recentes: contos, crônicas e artigos. Dois volumes de
contos: “Luz vermelha que se azula” e outro cujo título deverá permanecer em
segredo até ser publicado. Escrevo todo dia. Isto não quer dizer que a cada dia
escreva um conto, crônica, artigo ou capítulo de romance. Passo dias e dias a
escrever uma peça literária, por menor que seja. No primeiro dia surge a ideia,
que anoto em caderno ou no computador. Pode ocorrer a conclusão no mesmo dia ou
na mesma hora. Mas prefiro dormir com ela (a ideia), ruminar bem, mastigar,
sonhar, pensar mais e no outro dia escrever um rascunho mais robusto.
c)
É possível deixar aqui uma poesia (desde já, obrigada,
do mais profundo de nossos corações)?
NM – Não sou bom poeta. E você pode
até ter pensado numa poesia de poeta famoso. Mas, neste caso, você tem tantos
livros e a Internet para buscar poemas. Então serei muito egocêntrico (como
todos ou quase todos escritores) e apresentarei um poema meu, “Nem sei
domar meus próprios cães”:
Para imitar o imortal Camões,
precisaria ser,
meus cidadãos,
mil seres juntos, ter mil corações,
hidra gentil – cabeça, tronco e mãos.
Porém sou pobre, sem nenhuns tostões,
vivo perdido em devaneios vãos,
e sem botinas, becas e botões,
como esses loucos que se creem sãos.
E velho estou, cabeça toda em cãs,
como meus pais, avós, as minhas mães,
as utopias, ancestrais e vãs.
Talvez pudesse ser padeiro – pães –,
tecer mortalhas – panos – doutras lãs,
porém domar nem sei meus próprios cães.
Um beijo a todos e continuem assim
inteligentes, sadios, fortes, amorosos, solidários, sem preconceitos.
P. S. –
Publicarei as perguntas e respostas (como estão aqui) no meu blog, semana que
vem. O endereço é http.literaturasemfronteiras.blogspot.com
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