segunda-feira, 25 de agosto de 2014

ENTREVISTA À FILOMENA VIEIRA(EM FRANÇA) AOS ALUNOS DO CIEP 121-MARAMBAIA EM AULA DE PRODUÇÃO TEXTUAL...





ENTREVISTA À POETA FILOMENA VIEIRA PELOS ALUNOS DO CIEP 121- PROF. JOADÉLIO CODEÇO- MARAMBAIA-SÃO GONÇALO. EM AULA DE PRODUÇÃO TEXTUAL DA PROFESSORA E POETA VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL):


1-      WALLACE LUCAS (Turma 901/2014):  Como foi fazer o seu primeiro poema?
R: O primeiro poema que escrevi foi IDENTIDADE. Ele “brotou” naturalmente, pois escrevi-o numa fase da minha vida em que me interrogava sobre a minha própria identidade. Com efeito, estando ligada a vários países, as minhas referências identitárias ultrapassam as fronteiras do país onde nasci e cresci (Angola) ou do das minhas origens (Cabo Verde) para abraçarem também as da Guiné-Bissau, país onde amadureci. A sua escrita trouxe-me um reconforto por ter encontrado uma definição da minha identidade. Aqui vai o poema:

IDENTIDADE

Busco raízes profundas
No sangue das Ilhas
A semente germinada
Em terras fartas do Maiombe
A flor desabrochada
Nas Colinas do Boé
E encontro
Os caminhos cruzados do meu eu

Caminhos de ontem
Caminhos de hoje
Horizontes infindos
Que fazem do meu eu
O ser de amanhã

Caminhos cruzados do meu eu
Trilhados por riquezas sem fronteiras
Criastes um Ser
Que é ele
O outro
E sou eu!


2-      YOLANDA ANDRADE (Turma 901/2014): Como se chama o seu primeiro livro publicado?  O que inspirou o título?
R: O meu primeiro livro é um romance, intitulado TIARA. Trata-se do nome da personagem principal, cujo percurso é o fio condutor da história.

3-      WASHINGTON VICTOR DE SOUZA FIGUEIREDO (Turma 901/2014): Como a Senhora descobriu o dom para ser escritora? E qual o seu atual livro, fale-nos sobre ele?
R: Quando eu tinha a vossa idade, nunca me ocorreu poder um dia escrever fosse o que fosse. Na escola detestava sempre fazer redações, sobretudo quando o tema era imposto pela professora. A primeira vez que me ocorreu a ideia de escrever, tinha eu cerca de 22 anos. Encontrava-me nessa altura em França, a estudar na universidade. Foi numa época de Natal, longe da minha família, senti-me muito só ao ver as casas enfeitadas com as coisas dessa época festiva. Lembrei-me então dos tempos da minha infância em Angola e das festas de Natal em família. A palavra ruptura apareceu na minha mente naquele instante. Eu tinha de facto tido uma ruptura com a minha vida passada em Angola e que me veio a lançar para outras paragens e vivências. Nesse preciso instante disse para comigo que tinha que escrever algo sobre a ruptura. Isso só veio a acontecer anos mais tarde com a escrita de TIARA.
Tanto a prosa como poesia foram formas de ultrapassar essa ruptura com o meu passado, mas também uma via para a redefinição da minha identidade, que considero multifacetada por ser o fruto de várias vivências.

4-      LAYLA MATTOS DE OLIVEIRA (Turma 901/2014):a) Qual profissão a senhora escolheria se não fosse poeta?
R: Não sou poeta de profissão… A poesia, ou melhor a escrita em geral é um “hobby” e até por vezes uma necessidade para manifestar um determinado estado de alma. Sou formada em Ciências Económicas e tenho trabalhado na área da cooperação internacional, entre outros na realização de projetos culturais, linguísticos e económicos nos países em desenvolvimento em África, na América Latina e na Ásia.

b) Além da imagem de pensamento o que você se inspira para escrever poemas tão lindos?
R: A escrita de um poema para mim não é mais do que um “estado de alma”, a manifestação objetiva de um sentir muito profundo, fruto de uma determinada vivência. Por de trás de cada poema meu está uma forte emoção: alegria, paixão, tristeza, angústia, desilusão ou a ânsia da busca de uma identidade. Sem essa emoção seria incapaz de alinhar dois versos, como não me seria possível escrever um poema por encomenda... E em função do sentimento que me impele para a escrita, o poema pode ser não só a revelação de um estado, mas ao mesmo tempo uma terapia contra esse estado, na medida em que a sua escrita apazigua-me, deixando-me com uma agradável sensação de libertação.

5-DAVISON DOS SANTOS (Turma 901/2014): a) O que levou você a ser escritor?
R: Foi a necessidade de redefinir a minha identidade, embora estivesse longe de mim a ideia de publicar fosse o que fosse. Foi inicialmente uma escrita para mim mesma que me permitiu arrumar as minhas ideias e só depois, por insistência de amigos é que decidi publicar

b) E como se sente morando onde mora?
R: Sinto-me uma cidadã do mundo. Adapto-me muito rapidamente ao meio onde vivo e por isso sinto-me sempre em casa!

6-JHONNATA HENRIQUE (Turma 901/2014): Qual a importância da Leitura e Escrita em sua vida? Por quê?
R: Tanto uma como a outra são ao mesmo tempo um passatempo e um processo de aprendizagem. Um passatempo pelo prazer que me proporcionam, quer a leitura quer a escrita e um momento de aprendizagem por aquilo que adquiro ao ler e que procuro saber ao escrever. Sou muito exigente comigo mesma.

7- RHUAN NEVES DA SILVA (Turma 901/2014): O que foi para você escrever o poema “ QUISERA”? Fale-nos sobre “CORAÇÃO CATIVO”?
R: QUISERA foi o poema que me permitiu virar uma página da minha vida pessoal, de me libertar de uma relação que não “teve passado” e não “teria futuro”. Ele ilustra bem o quão a poesia me ajuda a ultrapassar os dissabores da vida e não só…
“CORAÇÃO CATIVO”, é uma coletânea de poemas meus, cujo nome foi tirado um dos poemas que a compõem. Ela está dividida em temas/capítulos:

- Raízes: reúne os poemas que têm a ver com questões identitárias.

- Amores cativos: reagrupa os poemas de amor.

- Desilusão: apresenta os poemas em que manifesto a minha desilusão sobre o desmoronar dos meus sonhos de juventude, particularmente sobre a evolução da situação na Guiné-Bissau, país em cujo desenvolvimento e progresso acreditei. Infelizmente até à data a Guiné-Bissau ainda procura a sua via para o desenvolvimento, tendo perdido inúmeras oportunidades para se reerguer.

- Esperanças: como se costuma dizer que a “esperança é a última a morrer”, guardo muito no fundo de mim mesma uma expetativa de virem dias melhores não só para a Guiné-Bissau, mas também para o mundo. Os poemas reunidos neste capítulo manifestam isso.
As ilustrações que iniciam cada capítulo são da autoria do meu filho Umaru Embaló.
agora deixo aqui o poema CORAÇÃO CATIVO:

CORAÇÃO CATIVO

Liberta-te coração
Das amarras do tempo
De preconceitos
E sonhos ausentes


Segue a luzinha
No fundo do túnel
É a candeia
Da chama da vida


Deixa-te amar
Coração palpitante
Liberta as amarras
E ama também


Segue o destino
Que a vida te deu
Liberta as amarras
Apaga teu medo
E dá-te também


Não percas tempo
Corre como o vento
Não vá a candeia
Apagar-se também!

8- MATHEUS LOBO GOMES LEITE (Turma 901/2014): a)O que a Senhora pode falar para as pessoas que estão lendo poesia dentro das escolas brasileiras, os seus e de outros escritores. Qual a importância de ler?
R: A leitura é a primeira forma de acesso ao conhecimento, seja ele de cultura geral, científico, ou outro. Ler poesia ou prosa de autores é uma forma de enriquecimento, pois quando se escreve, transmite-se aquilo que se adquiriu da sua cultura de base. E o leitor pode assim informar-se sobre outras culturas e abrir-se para novos horizontes. Conhecer o outro é uma forma de se evitar a intolerância, a desconfiança, a rejeição e o ódio para com os outros que nos são desconhecidos.
Mas a leitura tem ainda uma grande função, pois através dela aperfeiçoamos a língua (a nossa ou uma estrangeira), e aprendemos a nos exprimir tanto de forma escrita como oral.
Aconselho fortemente os jovens das vossas idades a interessarem-se pela leitura nem que seja de livros de “quadrinhos”! O gosto pelos outros géneros virá de seguida.-

b) Qual a emoção sentida ao saber que várias crianças estão lendo seus poemas?
Isso dá-me uma satisfação imensa, pois convosco estou a partilhar sentimentos e esperanças.

9- ALEXANDRA GIGUEIREDO SILVA (Turma 901/2014): Quando não está escrevendo, o que mais gosta de fazer?
R: O que mais ocupa o meu tempo é o meu emprego. A escrita não me permite viver dela! Mas tirando o trabalho e para me descontrair gosto de ler, fazer palavras cruzadas e… Sudoku. Conhece?

10-MONIQUE SANTOS (Turma 801/2014): Sua vida sem poesia como seria?
R: A poesia não está presente na minha vida diariamente. Passo por vezes muito tempo sem escrever um poema… Às vezes mais de um ano! Ela é para mim uma espécie de refúgio quando tenho algo para desabafar ou ultrapassar. E como ela surge espontaneamente, não imagino como seria se ela me faltasse um dia…

11-GABRIELA DA SILVA (Turma 801/2014): Quais poesias suas marcaram sua vida e/ou quais escritores?
R: O meu poema DESILUSÃO marcou o momento em que tomei consciência de que poderia intervir por uma causa política através da poesia. O poema OS MESTRES DO MUNDO confirmaram essa determinação. Senão, foram importantes na minha vida: IDENTIDADE, DETALHES, CONFIDÊCIAS QUISERA e ENTERRARAM O SONHO DE CABRAL. (ver no fim da entrevista os poemas Detalhes, Confidências, Os mestres do mundo e Enterraram o sonho de Cabral)
Devo certamente ter tido influência dos poetas clássicos portugueses que éramos obrigados a ler durante o período colonial português. Em relação à prosa acho ter recebido muito da escritora estadunidense Pearl Buck, cujos livros li todos na minha adolescência e juventude. Identifico-me muito com o seu estilo de escrita

12-VITÓRIA CRISTINA (Turma 801/2014):  Quantos livros você já escreveu e publicou?
R: Publiquei quatro livros, entre os quais um em coautoria com p Prof. Hildo Couto, da Universidade de Brasília. Aqui vai a lista:
·         Literatura, língua e cultura na Guiné-Bissau – um país da CPLP, Edições Thesaurus, Brasil, 2010, co-autora com Hildo Couto;
·         Coração Cativo, recolha de poemas, bilingue português-francês, edição da União Nacional dos Escritores de S. Tomé e Príncipe, 2005, 2008;
·         Carta Aberta, recolha de textos e contos, edição da União Nacional dos Escritores de S. Tomé e Príncipe, 2005;
·         Tiara, romance, Edição do Instituto Camões, Lisboa, Portugal, 1999.

13- LORRAYNE BRAGA DESTERRO (Turma801/2014): O que você acha dos escritores e poetas do Brasil? Quais deles gosta de ler?
R: Infelizmente conheço muito pouco da literatura brasileira, sobretudo da nova geração de escritores. Pertenço à geração dos lusófonos não brasileiros que leu na sua juventude Jorge Amado. Li vários dos seus livros. Li também Paulo Coelho, mas infelizmente em tradução francesa o que para mim tira um pouco da alma original da obra. Dos mais antigos, li alguns poemas de Machado de Assis e de Manuel Bandeira. Mas devo dizer que tenho o grande mundo literário do Brasil por descobrir!

14- WALACE SILVA (Turma 801/2014): Qual do seu livro gostou mais de fazer?
R: Foi TIARA, pelo facto da sua escrita me ter ajudado a redefinir a minha identidade e a reencontrar-me comigo mesma.

15- EDSON DA SILVA (Turma 801/2014): Você já escreveu livro de terror? Pensa escrevê-lo? Por quê?
R: Nunca escrevi e penso que nunca escreverei. Não gosto de terror!

15- GABRIEL TEIXEIRA (Turma 801/2014): Para você poeta, o que é poesia?
R: Ver a resposta 4 b)

16- CARINE DE MORAIS BARBOSA (Turma 801/2014): Você já escreveu uma poesia sobre a sua família?
R: Apenas um poema dedicado à minha filha.

17-BRUNA DOS SANTOS (Turma 801/2014): Qual foi o poema que mais lhe emocionou?  Por quê?
R:Se a pergunta se refere aos meus poemas é OS MESTRES DO MUNDO, pelo grito de dor pela opressão de que é vítima uma parte da Humanidade.

18- ANA CINTIA (Turma 601/2014):Qual a importância em ser poeta?
R: Eu não falaria em termos de importância, pois “ser” poeta é para mim manifestar através da poesia sentimentos e estados da alma. Para mim não é uma escolha, mas uma necessidade, pois o poema “brota” espontaneamente.

19- JULIA DE BARROS (Turma 601/2014): Qual foi a sua reação, no início da carreira , quando começou a ser reconhecido como escritor/poeta?
R: Nunca considerei a minha atividade literária como sendo uma “carreira”. Talvez seja mais um hobby que me permite exprimir o que vai dentro de mim. E quando escrevo, o objetivo primeiro é o de libertar algo de mim. Mas apraz-me saber que a minha escrita toca outros corações.

20- GABRIEL ALVES (Turma 702/2014):  O que você achou da COPA DO MUNDO NO BRASIL/2014?
R: Não sou fã do futebol, mas segui mais ou menos alguns jogos da copa. O Brasil está de parabéns pela forma como o campeonato decorreu.

21- KESIA GOMES (Turma 701/2014 ): a)Como é publicar um livro?  Fale sobre “Retalhos de Alma”
R: A publicação de um livro é um trabalho bastante laborioso, mas tem como recompensa a sua partilha com os outros. E isso é muito grato.
Não li o “Retalhos de Alma”…

b)  Qual a sua opinião sobre o Feminicídio?
R: Como todo assassinato, o feminicídio é um crime condenável.

22-KATIA MENDONÇA (Turma 701/2014): Qual a pergunta que você gostaria de responder e nunca ninguém perguntou?  Por quê?
R: Não tenho nenhuma…

23- WILCTRY (Turma 701/2014): Qual o seu maior sonho?  Já o realizou?
R: O meu maior sonho é ver o mundo liberto da fome e das guerras assassinas; ver o sorriso no rosto de cada criança e que o verdadeiro amor entre os homens substitua o ódio nos corações de todos aqueles que fazem a guerra por interesses pessoais e ganância pelo poder.

24- EDUARDA DA GLÓRIA (Turma 701/2014): Nós, do CIEP 121-PROF. JOADÉLIO CODEÇO-MARAMBAIA-SÃO GONÇALO,  lhe desejamos alegria e sucesso no trabalho e em família, assim minha pergunta é – Faria um poema para mim?
R: Eduarda, se me falares um pouco de ti, teria todo o prazer de te dedicar um poema. O que gostas de fazer na vida? Que idade tens?


Obrigada!!!
Sou eu que agradeço a todos bem como à vossa professora Vanda Sales por me ter levado até vocês. Se me permitem um pequeno conselho, queria dizer que estudem afincadamente para que possam garantir o vosso futuro. A formação é a única arma capaz de libertar definitivamente o Homem da ignorância.
Um abraço a todos.

Filomena Embaló.



DESILUSÃO

Abate sobre mim
O peso angustiante
De esperança perdida
Da crença desmentida

Desmorona-se o mundo de sonhos
Alicerçado em ideias juvenis
Que o correr da vida
Transformou em utopia

Nego-me a engolir
O nó da desilusão
Que me estrangula
Me sufoca...

Nego a entregar-me
A esse pranto vencido
Que me invade o peito
Me deixa muda
Estupefacta
Impotente!

Reservo-me o direito de acreditar
Que se sonho existe
Se sonho existe
É o pesadelo em que me encontro!




Talho e retalho
O manto da vida
Detalhes colados
Em sincronias
De tempos e espaços
Cores e cheiros
Gestos e feitos

Talho e retalho
Pedaços de vida
Daqui
De acolá
E de além mais
Detalhes perdidos
Achados no tempo
Em espaços deixados
Na senda da vida

Colo retalhos
Pedaços de vida
Memórias do tempo
Caminhos cruzados
Detalhes e atalhos
Que fazem a vida!





OS MESTRES DO MUNDO

Vieram
Levaram tudo
O sonho
A esperança
A vida
Até a realidade varreram
E na azáfama da fuga
O vazio arrancaram
Com medo que engendrasse
Os genes da vida
A luz
E os seus gestos
Denunciassem

Eles...
Os mestres do mundo
Afogaram o sonho
Enforcaram a esperança
Apagaram a vida
Com um sopro
Um estalar de dedos
Um sacudir de ombros altivo...

Senhores de todos os
Destinos
Intocáveis
Nas suas torres de cristal
Roubadas ao suor alheio
Vieram
Levaram tudo
O riso
O pranto
O fôlego
Até os rostos desfigurados
Pela dor
E na azáfama da fuga
Os olhos arrancaram
Para que não os vissem
E os condenassem

Eles...
Os mestres do mundo
Prenderam o riso
Amarraram o pranto
Asfixiaram o fôlego
Num gesto louco
De um estalar de chicote
O olhar altivo...

Deuses do universo
Senhores de todos os
Destinos
Decidindo a vida e a morte
Vieram
Levaram tudo
A dignidade
A modéstia
A honestidade
Até o pensamento
Esvaziaram
E na azáfama da fuga
A consciência perderam
Por não lhe suportarem o peso

Eles...
Os mestres do mundo
Violaram a dignidade
Enterraram a modéstia
Venderam a honestidade
Num abrir e fechar de olhos
Como num truque de magia
O semblante altivo...

Senhores absolutos
Inverteram a escala de valores
À luz da própria imagem
Vieram
Levaram tudo
O pão da boca do faminto
O tecto do desabrigado
Até a História apagaram
Deixando apenas no seu rasto
Humilhação
Impotência
Revolta
Que o povo na dor afoga
Por iguais armas não possuir
Para combater tal violência
Que de igual
Só tem o ódio
Fruto mudo
Da fúria destrutiva!

Eles...
Os mestres do mundo
Criminosos impunes
De consciência tranquila
Barriga farta de ganância
O peito inchado de razão
De uma legitimidade usurpada
Inconscientes da própria ignorância!!!



ENTERRARAM O SONHO DE CABRAL

Esperança acalentaste
Num futuro risonho
Terra-Mãe – Filha de África
Em tuas entranhas
Ressuscitaste o sonho
Razão do teu viver
Armaste teus filhos
Rumo à liberdade
Acreditaste na vitória
Mas os ventos mudaram

Os homens também...

Sem escrúpulos nem pejo
O teu sonho derrubaram
Num cíclico jogo de armas
Honrado seja o teu nome
Oh! Pátria mil vezes violada

De onde vem tanto ódio
Entre teus filhos amados?

Corre o sangue derramado
Abrem feridas mal saradas
Bate em teu peito a chamada
Recobre as forças Terra-mãe
Ainda é longa a caminhada
Levanta-te Guiné e desenterra o teu sonho!



CONFIDÊNCIAS

Oh, Mar!
Meu amigo
Meu confidente
Nas tuas ondas mergulho
Na tua espuma me desfaço
No teu leito me desnudo
E a ti me entrego
Na ânsia de um desabafo

Só tu me entendes
Só contigo sou eu mesma
Sem a máscara da força que não possuo
Sem o ânimo que tão bem simulo
Sou apenas eu
Aquela que o Amor renegou
E a vida abandonou no leito de quem nunca a amou

Sou apenas eu
Corpo inerte sem afago
Gritando alto meu desabafo
Meu calvário
Meu purgatório
De um amor não ofertado

Nas tuas ondas me perco
Na busca de tanto afeto
Fecho os olhos
E me entrego
Às carícias do teu roçar...




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