terça-feira, 25 de janeiro de 2011

HOMENAGEM: IMAGEM DO MUNDO E AUSÊNCIA - NUNO JÚDICE (PORTUGAL)



Foto: O poeta



IMAGEM DO MUNDO



NUNO JÚDICE (PORTUGAL)



Vejo o mundo. E ao ver as coisas do mundo,
Com a sua realidade própria, vejo também
A diversidade que existe en cada coisa,
Distinguindo-a multipla ou plural,
Como se diz. No entanto, o que eu vejo
E sempre igual ao que eu penso
Que o mundo é; e tudo se torna
Semelhante, dentro deste mundo que é
O meu, e é sempre diferente do mundo que
Existe no pensamento de outro. E por isso
Que não penso nas coisas do mundo como
Se fossem minhas; e que o deixo para os outros,
Para que eles façam o mundo como quiserem,
Para que seja diferente do meu, quando o
Olho, e o que vejo me restitui o mundo
Como eu o quero, diferente do mundo que
Os outros pensam.





AUSÊNCIA


NUNO JÚDICE (PORTUGAL)



Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
por isso, de deixar alguns sinais – um peso
nos olhos, no lugar da tua imagem, e
um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
tivessem roubado o tacto. São estas as formas
do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
as coisas simples também podem ser
complicadas, quando nos damos conta da
diferença entre o sonho e a realidade. Porém,
é o sonho que me traz a tua memória; e a
realidade aproxima-me de ti, agora que
os dias correm mais depressa, e as palavras
ficam presas numa refração de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de
mim – e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói.


(Nuno Júdice – do livro: Por Dentro do Fruto a Chuva – Antologia Poética)


*NUNO JÚDICE: nasceu no Algarve, sul de Portugal, em 1949. Poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo, editor, professor universitário e diplomata. Estudou filologia clássica. publicou doze livros de poesia, seis de ficção, e vários volumes de ensaios. Foi o primeiro poeta português a ser publicado na França pela Gallimard . Em 1973 ganhou o prêmio Neruda ,em 1995, o grande prémio de poesia pela Associação de Escritores Portugueses. Serviu como Adido Cultural de Portugal em Paris. Fundador e diretor da revista Poesia Tabacaria. Algumas de suas obras, traduzidas para o francês são reflets Jeu de (conjunto de reflexões), com pinturas de Manuel Amado, Paris, Chandeigne, 2001; Lignes d'eau (linhas de água), Fata Morgana, 2000, Traços d'ombre (sombra AVC), traduzido por Leibrich Geneviève, em Paris, Métailié, 2000; Um temps du chant dans l'épaisseur (Uma canção na espessura do tempo), seguido por ruines Méditation sur les (Meditação sobre ruínas), Gallimard, 1996; Voyage dans un siècle de littérature portugaise (Ride um século de literatura Português), Bordeaux, l'Escampette, 1993.

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