ACOR (DES) DE AMOR EM
LÁ MAIOR
VANDA LÚCIA
DA COSTA SALLES
O sol saiu
Cedinho estiquei o pano na tela
No risco um piano de cauda...
Ah, que delícia!
O amor chegou tão perto.
No segredinho do toque.
Com fome de quero mais...
Emaranhado de beleza, com jeito de carpinteiro em lustrosas
madeiras
Em louros e sóis de mognos e eucaliptos
Entre resinas e girassóis plantei-o
Na safadeza do nosso sofá à tarde.
Miguel pontuou o dia,
Disse-me: Ave Maria!
De graças seja essa nossa imensa alegria
Dessalguei a carne e a costelinha,
Cheirinho gostoso de alecrim,
Jasmim na sala...
Um blues estala
Saudades de ti!
Aqui,
Água a boca tempero de felicidade!
Ligo a TV... O que se vê?
Desastres guerras solidão
Amplidão de oceano... Navios de guerra...
Humanidade descabida
Desprovida de ternura
Corro, pincelo a broa com requeijão
Ah, João Pedro!
Iluminismo pra quê? Como não?!
Que seja pequena a estrada
Mas viver vale a pena!
Enquanto massageio o pé direito com arnica,
mentol, cânfora e salicilato de metila a espera
que a dor passe...
Desligo a TV. Ninguém vê
A criança erguer as mãozinhas rendidas...
Amedrontada diante de uma câmera fotográfica
Eficaz
Do outro lado do mundo alguém faz
Uma selfie a mais...
Pulo as adversidades como se fossem amarelinhas...
-Carinho, o que vais querer para o jantar?
@ em 25/04/2017
