domingo, 30 de dezembro de 2012

POESIA: AMOR-AGARRADINHO-AMOR - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES



AMOR-AGARRADINHO-AMOR


                         VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES


a boca apetece o gosto, encanto roça o jardim
no goto saudade espreme seiva,
roça cheiro,
sufoca,
firula-se espinhos e espanto
aqui,
campânulas adormecem
no peito audacioso de um bem-te-vi
na rede dengo embala o dia,
Bela- Emília ri,
geme,
despoetizando pétalas
no canto,
amor-agarradinho, amor &
beijos,


Ah, e esse bichano à espreita!






domingo, 23 de dezembro de 2012

CRÔNICA: FELIZ NATAL - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES

Foto: Samuel e Miguel andando de carrinhos (Brasil)



FELIZ NATAL



                         Vanda Lúcia da Costa Salles



     A garotada alegre sorria com os coloridos carrinhos. Um alvoroço na fila anunciava que o tempo não transtornava a possibilidade de experimentar todos os bate-bate. Uma alegria é maior que o deslize de lágrimas impuras.
     O menino de camiseta rosa dizia todo prosa agarrado a mão de sua mãe, afastando-se da imensidão de pernas que o impediam de mirar o seu presente de Natal, " sim, mãe, eu quero de presente de Natal um passeio nos bate-bate. Um não, dois. Papai Noel disse que eu pedisse isso para você". A mãe, um pouco amedrontada por conta dos parcos dinheirinhos na bolsa, enxugava um filete de lágrima que teimava ficar em sua face, até secar ao tempo. De súbito, transportada no tempo, em tempo vislumbrou-se pequenina igual ao filho, segurando firme a mão de sua mãe, em frente a padaria do seu Zé da esquina, desejando de presente de Natal as mais saborosas rosquinhas carameladas e que dificilmente entrariam no cardápio da família. No frio da manhã, disse a mãe que queria uma caixa das rosquinhas carameladas como presente de Natal. A mãe nervosa, afirmou categoricamente:
    - Nem pensar! - Você sabe que o dinheiro de seu pai anda curto. Mal temos para o grosso, quanto mais para o fino.
     Pirracenta, não entendendo nada de economias, chorrava saboreando as rosquinhas com os olhos amorosos em desejos infantis, para depois espichar-se no chão reafirmando o seu amor:
     - Mais eu quero!  Eu quero!   Eu quero!  Somente uma caixinha!  Uma apenas!  É todo o sonho de minha vida!
      Não teve jeito. E até aquele instante preciso, compreendeu afinal o porquê de sempre rolar em sua face àquelas lágrimas impuras, indesejadas, tão sonhadoras. Sem pensar, e nem querendo saber se teria o bastante para voltar a casa, correu arrastando o filhote pela mão em direção a fila dos carrinhos coloridos. E sem contar as carinhas de alegria das criançadas, percebeu a imensa alegria de seu filho ao derramar sua felicidade  nas faces coradas, no profundo de seu coração, para depois escorrer lentamente como pincelada de um artista consagrando sua obra-prima. Enquanto o filho experimentava o prazer do seu presente de Natal, ela correu os olhos buscando o lugar ideal para dar a si mesma um presente de Natal, e talvez com sorte seria uma rosquinha caramelada, e quem sabe secasse em sua face àquela lágrima impura.