Foto: Museu do Louvre
A MÃE DE MINHA MÃE
VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES ( RIO DE JANEIRO-BRASIL)
" Admirável a mãe de minha mãe quando contava as suas velhas histórias, embriagadoras de riso e perfeição criativa, nos fazendo esquecer que faltava de quase tudo nas panelas silenciadas no fogão de sua cozinha. E vivíamos a espera de seu afetuoso convite "Vamos catar pitangas, gurizada?"
De papai, nada sabíamos, apenas que abandonara a casa quando Manoela nascera, e isso já ia para uns 10 anos. A mamãe enlouquecera de dor, nem tanto do abandono amoroso, muito mais quando Quiquinho virou uma estrelinha e passou a habitar o azulão do céu do Senhor e ela conviver num tal Ego, conforme palavras da mãe de minha mãe.
Hoje, exatamente hoje, a mãe de minha mãe afagou nossos corações: fez o convite esperado ao gritar bem cedinho, com a matula já preparada:
- Pula da cama gurizada, vamos catar pitangas! - enquanto arrumava um lenço estampado na cabeça grisalha, sacudia os lençóis, apanhava os puçás e disparava os seus "causos" inusitados ao indagar: Por acaso, eu já contei a vocês " As Aventuras do Capitão Leocádio? - e continuou, fazendo cara de estupefata:
- Não!?
- Não! - disse Manoela.
- Vovó tenho sede! - insinuou Martinho.
- Pronto, aqui está a sua água. - e continuou: - Pois saibam que é uma bela história, dentro de uma outra história, porque nessa mesma mata onde iremos trilhar a procura de pitangas, o esperto Capitão Leocádio - o pai do meu avô -, escondeu um grande tesouro que ganhou dos guaranis quando casou com a bela Indiara, filha do Cacique da tribo, ao capturá-la estalando folhinhas de pitanga dentro da mata virgem, em Arraial do Cabo.
Por uns segundo, a mãe de minha mãe esquecia de tudo, seus olhos duas jabuticabas, brilhavam como se a felicidade em forma de lembranças beijasse o seu coração e a convidasse a bailar. E ela, com toda a sua doçura e expressividade, povoava a nossa imaginação de criança querendo aprender todos os mistérios escondidos, no coração da terra. E quando ela falava, a gente apenas ouvia, ouvia, e seguia a trilha deixada, ao pisar o capim, mata dentro. E eu, a frente, levava a sua bandeira, desbravando o inesperado do cotidiano..."
sexta-feira, 11 de maio de 2012
terça-feira, 1 de maio de 2012
POESIA: CÂNTICOS AOS TRABALHADORES - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES
Foto: MÃE ( Botero )
CÂNTICOS AOS TRABALHADORES
VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES
I
Se a linguagem é imprecisa: L (ab) utamos!
Se o amor não corresponde: L ( ab) utamos!
Se a mão ao traço imola: L (ab) utamos!
Se o osso atravessa o caldo: L (ab) utamos!
Se o leitor nega o círculo: L (ab) utamos!
E porque a vida exige uma transformação: L (ab) utamos!
II
Ó Senhor, dê a todos nós a flor do deslumbramento
e a descoberta dos silêncios,
na poesia da vida,
na solidariedade da terra trabalhada!
III
E se as calosas mãos já não criam: Afaste de nós esse cálice!
IV
Que o vinho embriague, da hóstia, o pão
na mesa não seja apenas batata ou esmola do pedinte,
e que nossos filhos não vivam agarrados as minguadas pensões
de seus pais e avós
VI
E reorganizem a mudança no foco de atenção: com consciência, porque
o tempo não tem realidades, apenas
a juventude da natureza
VII
E livre de estrutura a curva ilumine, do gosto a saliva:
o que encanta o poema!
CÂNTICOS AOS TRABALHADORES
VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES
I
Se a linguagem é imprecisa: L (ab) utamos!
Se o amor não corresponde: L ( ab) utamos!
Se a mão ao traço imola: L (ab) utamos!
Se o osso atravessa o caldo: L (ab) utamos!
Se o leitor nega o círculo: L (ab) utamos!
E porque a vida exige uma transformação: L (ab) utamos!
II
Ó Senhor, dê a todos nós a flor do deslumbramento
e a descoberta dos silêncios,
na poesia da vida,
na solidariedade da terra trabalhada!
III
E se as calosas mãos já não criam: Afaste de nós esse cálice!
IV
Que o vinho embriague, da hóstia, o pão
na mesa não seja apenas batata ou esmola do pedinte,
e que nossos filhos não vivam agarrados as minguadas pensões
de seus pais e avós
VI
E reorganizem a mudança no foco de atenção: com consciência, porque
o tempo não tem realidades, apenas
a juventude da natureza
VII
E livre de estrutura a curva ilumine, do gosto a saliva:
o que encanta o poema!
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